Thursday, January 04, 2007

OS DISCÍPULOS DE PROUDHON

Em termos gerais chama-se a atenção para o facto de Proudhon fazer figura de solitário na história francesa do socialismo, sem discípulo nem verdadeiro continuador. À primeira vista é exacto. É necessário no entanto, tomar em conta a descendência dos grandes militantes - Eugène Varlin, um James Guillaume, un Fernand Pelloutier, um Victor Griffuelhes - que nunca cessaram de opor uma inspiração e uma prática libertárias à insinuante ortodoxia marxista. E isto até à guerra de 1914 pelo menos.Entre os seus sucessores sem alvará, o mais ilustre, apesar de ser o menos assinalado, é seguramente Charles Péguy. Não se ignora que o poeta do Mystère de la charité de Jeanne d`Arc e de Eve abraça em primeiro lugar um socialismo demasiado pessoal, que não deveria nunca renegar apesar dos dissabores. Em contrapartida permanece o mais conhecido passado em silêncio, a afinidade surpreendente da sua personalidade e da sua visão revolucionária com as de Proudhon.Alguns autores assinalaram sem dúvida, mas dum modo passageiro e a título de referência global. A bem dizer e segundo certos critérios, uma objecção dirimente apresenta-se: Péguy- do qual sabemos o quanto lia pouco - verdadeiramente não conheceu em primeira mão a obra de Proudhon. As referências a este respeito nos seus escritos são raras e poucos convincentes. Estão contudo marcadas, duma conotação simpática.Lembremo-nos das profissões de fé que figuravam, desde 1898, em Marcel, primeiro diálogo da cidade harmoniosa; não esquecemos também a orgulhosa réplica a Lucien Herr, inquisitor do socialismo oficial, acusando-o de anarquista como se tratasse duma doença vergonhosa: “Esta palavra não me apavora.” E ainda mais esta divisa que o autor de De la justice poderia ter feito sua. “A revolução social será moral ou não será”.Tais índices são reveladores. Por falta de prova formal, podemos assegurar que Péguy foi impregnado de proudhonismo ao longo dos seus contactos com os meios operários, desde os anos da escola Normal. em todo o caso aquele que chamava o seu “mestre”, Georges Sorel, não terá deixado de lhe ter falado. A primeira contribuição de Sorel para os Cahiers de la Quinzaine, (Junho de 1901) era precisamente consagrado a Proudhon. Lembremo-nos que a maior parte daqueles que, levados por Sorel frequentavam então a mais célebre loja - Lagardelle, Berth, Guieysse - podem ser qualificados de proudhonianos.Isso não é no entanto o essencial. Mais uma vez não está aqui em causa uma “influência” no sentido tradicional da palavra mas uma afinidade profunda, íntima, uma espécie de teincarnação poderíamos dizer. O primeiro ao tê-lo plenamente detectado, e em fornecendo uma ilustração surpreendente foi Alexandre Marc nos seus textos escolhidos publicados na Suíça pouco depois da Libertação. A apresentação do pensamento de Proudhon está entrecortada de epígrafes pedidas emprestadas a Péguy, sobre o qual Marc tinha escrito pouco antes um livro fraternal. Um e outro livro estão infelizmente esgotados à muito.Um tal contraponto é bem mais convincente que todas as investigações de fontes. Vemos dois génios face a face, unicamente pela confrontação dos seus escritos, seguindo caminhos paralelos sem nunca perderem a sua originalidade própria. Diálogo talvez mais autêntico do que ele se tivesse dado fisicamente. Assim o escreve Marc no seu prefácio: ”desta mesma aproximação - através similitudes e dissemelhança - brotam claridades que penetram até ao fundo de um e de outro, até à substância, até à consubstancialidade do seu ser profundo”. Citando estas linhas Daniel Halévy, tão bom conhecedor de Péguy que de Proudhon (conhecido igualmente por Sorel), diz que a subscreve “inteiramente”. Convidamos os proudhonianos a fazer esta experiência duma espiritualidade única e rica de ensinamentos.