PROUDHON: PARA UM BALANÇO
Em epígrafe ao seu primeiro grande livro, as Contradições económicas , Proudhon tinha inserido a famosa divisa da qual só se costuma reter a primeira parte: Destruam et oedificabo. Concordamos que ele destruiu bastante, costuma-se estar menos seguros que tenha construído.A sua crítica impiedosa exerceu-se com efeito, sobre todas as doutrinas do seu tempo, a qual se distinguiu por descobrir os lados erróneos os perigosos. Liberais demasiado individualistas e comunistas demasiado gregários, socialistas demasiado governamentais ou demasiado fraternais, democratas demasiado unitários e demasiado centralizadores, católicos demasiado absolutistas e cépticos sem fé profunda, materialistas sem costumes, todos sentiram a correia do seu chicote. Se os seus ataques foram por vezes excessivos ou eventualmente injustos, é necessário tornar responsável a violência do seu temperamento e a sua convicção absoluta de nada escutar a não ser a ciência e o direito.Com estes elementos antinómicos que a sua análise punha a nu Proudhon tentou de seguida constituir equilíbrios ou sínteses. Não conseguiu igualmente, porque era para certos olhares demasiado “ antigo, para outros demasiado avançado para o seu tempo. Estava entretanto magoado de só ser considerado um demolidor, e na sua Teoria da Propriedade ( póstuma) tentou enumerar “ as demonstrações de coisas bastante positivas” da qual se lisonjeava de ter enriquecido a ciência. Eis a lista:1- Uma teoria da força colectiva: metafísica do grupo.2- Uma teoria dialéctica: formação dos géneros e espécies pelo método serial; engrandecimento do silogismo, que só é bom logo que as premissas são admitidas;3- Uma teoria do direito e da lei moral ( doutrina da imanência);4- Uma teoria da liberdade;5- Uma teoria da decadência, quer dizer da origem do mal moral: o idealismo;6- Uma teoria do direito da força: direito da guerra e direito das pessoas;7- Uma teoria do contrato: federação, direito público ou constitucional;8- Uma teoria das Nacionalidades, deduzida da teoria da força colectiva: indigenato, autonomia;9- Uma teoria da divisão dos poderes, lei de separação correlativa da força colectiva;10- Uma teoria da propriedade;11- Uma teoria do crédito: a mutualidade, correlativa da Federação;12- Uma teoria da propriedade literária;13- Uma teoria do Imposto;14- Uma teoria do Comércio e dos seus desiquilíbrios.15- Uma teoria da População;16- Uma teoria da Família e do Casamento;Sem prejuízo dum conjunto de verdades ocasionais(1).Esta lista pedia para ser vista de pé, e a ser ajustada pelo estudo das origens de Proudhon, mas ela traduz o justo protesto do escritor que Faguet justamente chamou de “uma das mais fecundas imaginações intelectuais do décimo nono século” em presença da negação de justiça da qual se considerava vítima. sem entrar em detalhes, podemos dizer,em traços largos, que Proudhon ficará para a história das ideias como o filósofo da imanência, da qual deduziu todos os aspectos; como o sociologo do ser colectivo, inseparável da pessoa moral; como o jurista do contrato e da federação e, para tudo dizer numa só palavra, como o teórico desta “ an- arquia” de que sabia bem que ela seria sempre estritamente irrealizável, mas da qual também sabia que nos podemos aproximar por uma série de “aproximações” que dependem da liberdade humana e que marcam as etapas do progresso (2). Absoluto do ideal, relatividade das aproximações: sempre os dois aspectos de Proudhon.
NOTAS
1 - Théorie de la Propriété, 215, 216.
2 - Théorie de la Propriété, 245, 246.
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