PROUDHON E O MANUAL DO ESPECULADOR NA BOLSA
Nos primeiros anos da década de 50 Proudhon passa por dificuldades acrescidas. Nenhum editor ousa editá-lo. Puxado pelas circunstâncias para a Bélgica, é preso na fronteira, pois nenhum editor o quer por em venda. Não vemos nenhuma outra razão ao impedimento da difusão dum trabalho puramente técnico que a reputação do homem ao escândalo do seu autor, aumentada pelas últimas polémicas.Por fim liberto, Proudhon vai em primeiro lugar retemperar forças com a sua família na sua Comté, em Burgille, donde passa por vezes por Besançon para “ mostrar a sua cabeça aos académicos”. desgostoso do jornalismo procura “ qualquer emprego de comércio honroso”, que lhe permite “ seguir trabalhos”, é “ afastado de todo o lado como se tivesse a peste”(1) É-lhe necessário escrever, escrever sempre: “ sou forçado à perpetuidade”. Mas o regime dá-lhe rédea curta. Os Jesuítas ( segundo indicações do príncipe Napoleão) recusam-lhe a autorização de editar uma Revue du Peuple, que teria sido “ um acontecimento ainda mais importante que o 2 de Dezembro!” (2) O clero, segundo o que corre, fizeram-lhe perder um processo em recurso onde todos os homens honestos lhe davam razão. “ É uma guerra de morte entre a padralhada e eu” grita, e não será somente a “padralhada”, como veremos no livro De la Justice.No que respeita a negócios não é mais feliz. Em Março de 1853 pede para participar ao empreendimento do caminho de ferro de Besançon a Mulhouse, mas a concessão é acordada para o banqueiro Pereire, e Proudhon, apesar dos seus amigos que o censuram, recusa 20 000 francos que lhe oferecia em compensação o concorrente preferido, “dinheiro e uma ideia são duas quantidades incomensuráveis”. No fim de 1853 aparece o Manual do Especulador na Bolsa, que Proudhon tinha escrito em colaboração com Duchêne, antigo redactor no Peuple, mas que só assinará a terceira edição.Não há oportunidade de pararmos demasiado aqui no conteúdo deste Manual. Foi simplesmente de início um trabalho técnico, “ uma espécie de Vade mecum da Bolsa” encomendada pelos irmãos Garnier, “ trabalho repugnante e penoso”, “ brochura de pacotilha”, concluída “ como um sapateiro faz um par de botas” ( surpreende este desdenho no apóstolo do trabalho). Mas sabemos que em Proudhon nada do que toca a finança e a economia lhe é indiferente. Rapidamente é “ conduzido a discutir mais a fundo os negócios ... seguidos de considerações de economia e de direito”. e mais ainda de “ moral pública”; está no seu elemento. Como o livro teve sucesso, torna-se “ a obra mais instrutiva da época... pela luz extraordinária que lançava sobre o tempo presente”.Que revela a Proudhon a análise da especulação bolsista? Uma imensa imoralidade, que corrompe todos os regimes e cria as guerras de classe.“ Falou-se dos crimes do Terror, das vergonhas do Directório, do arbítrio do Império, das corrupções da legitimidade e da Monarquia burguesa. Comparai estas misérias com a dissolução duma época que tomou por Decálogo a Bolsa e as suas obras, por filosofia a Bolsa, por política a Bolsa, por moral a Bolsa, por pátria e por Igreja a Bolsa! (3)....O operário, fechado no círculo estreito dos salários, decifrou o segredo de tantas escandalosas opulências... A cisão entre a burguesia e o proletariado, cada dia mais aparente, é, podemos dizer, irrevogável (4).Um tal estado de coisas não pode durar, é necessário que esta situação tenha uma saída e só há duas possíveis:- Ou o triunfo do sistema, quer dizer a expropriação em grande do país, a concentração dos capitais, do trabalho sob todas as suas formas, a alienação da personalidade, do livre arbítrio dos cidadãos em proveito dum punhado de orientadores insaciáveis; - ou a liquidação.”E não nos assustemos com a palavra liquidação.a liquidação, será o regresso à ordem, uma noite do 4 de Agosto. Glória ao trabalho, paz àqueles que produzem, união e força entre todos os que permutam, eis a liquidação (5)NOTAS1- Carta a Ch. Edmond, 18 de Outubro de 1852, Corresp. t. V., p.67.2- Corresp., V, 310.3- Manuel, edit. Lacroix, p. 8.4- Ibid., p. 40.5- Ibid., p. 148.
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