Tuesday, February 27, 2007

Este é um País que tem Baixo Nível



Este é um país que tem baixo nível. Baixo nível de conflitualidade social segundo palavras do primeiro-ministro mais impostor destes últimos trinta anos. O mais impostor porque em primeiro lugar é primeiro-ministro em exercício, segundo porque é aquele que conseguiu bater todos os recordes de alteração radical de posição política no menor espaço de tempo.
É obra, mas quem tem baixo nível é o país…
Portugal regista um "baixo nível" de conflitualidade social e "muito abaixo do que seria de esperar" perante as medidas do Governo. É esta a declaração que não deve deixar de nos fazer pensar. Questionado pelos jornalistas sobre as várias greves convocadas por diferentes sectores, Sócrates considerou que a "conflitualidade social é normal numa democracia". "Há uma conflitualidade social relativamente às medidas do Governo muito abaixo do que seria de esperar em Portugal", sublinhou o primeiro-ministro para imediatamente a seguir lamentar que em Portugal "haja pouco o hábito de considerar a conflitualidade social como normal" e comparou a situação do país com a que se vive em França.
"Se olharmos para França, com o Governo a fazer muito menos que o Governo português, são muito maiores as manifestações", disse, numa alusão à jornada de contestação ocorrida naquele país, que levou cerca de um milhão de pessoas à rua, segundo os organizadores.
Não é portanto para admirar que um pseudo ideólogo do regime tenha escrito que “Repito, Sócrates é o melhor gestor de danos políticos do PS, do Governo e da maioria, e só por isso percebe-se a razão de ser o primeiro entre pares.”
Daí que também certos sectores tenham também dito que “Pelos vistos temos de intensificar as formas de luta”.
Se o primeiro-ministro o fosse de França, nunca teria a coragem de dizer o que disse e isso deve levar-nos a pensar sobre o caso…
A verdade é que falta a veia, a fibra, a coragem a um povo que sobretudo gosta de criticar pelas costas e a seguir encolher os ombros. Os franceses não são assim…Mas a diferença em termos históricos e de tradição democrática também não tem paralelo. Os franceses tiveram o Maio de 68, nós tivemos o Salazar, os franceses tiveram a segunda guerra mundial, nós tivemos o Salazar, os franceses tiveram a primeira guerra mundial, nós tivemos o Salazar, os franceses tiveram a Comuna de 1871, nós tivemos o Salazar, eles tiveram a revolução francesa, nós tivemos o Salazar. Os franceses tiveram que fazer pela vida enquanto povo, como comunidade, nós tivemos o Salazar…
Salazar é a figura mais importante da contemporaneidade portuguesa pelos piores motivos…Portugal é ainda salazarento apesar do ditador já ter morrido há 36 anos. E por aquilo que sabemos que a besta fascista disse e fez, o país comporta-se como se ele ainda estivesse entre nós e reagimos às provocações do poder como se fosse ele a dizê-lo…
Dos jornais:

FRANÇA: MAIS DE UM MILHÃO PROTESTAM NA RUA CONTRA O NEOLIBERALISMO

Foi um grande êxito a greve nacional de 4 de Outubro que paralisou a França. Mais de um milhão de franceses vieram às ruas em 150 manifestações por todo o país a fim de protestar contra a política governamental. A greve paralisou as empresas de caminhos-de-ferro, electricidade, correios, telefones, transportes urbanos e as escolas. Além disso, assalariados da Hewlett-Packard (multinacional que encerrou a sua fábrica em França), e de empresas como a STMicroElectronics, Géant Casino, Legrand, Renault Trucks, Airbus, Alcatel e Ford desfilaram em massa, por toda a França.
Diante desta poderosa manifestação de força do povo francês o primeiro-ministro Villepin declarou que queria "responder às suas inquietações e aspirações".

A mobilização em França foi inteiramente justificada pela ofensiva liberal e repressiva organizada pelo governo e que se caracteriza por: desenvolvimento da precariedade, estilhaçamento do código do trabalho e ordenações governamentais; encorajamento das práticas de baixos salários; ataques contra os direitos dos desempregados; privatização das empresas, planos de licenciamentos, desmantelamento dos serviços públicos e reduções de empregos na função pública; colocação em causa do sistema de aposentadoria por repartição e racionamento dos cuidados médicos; política fiscal ultrajantemente favorável às categorias possidentes; política securitária de repressão e de criminalização sindical; atentados às liberdades individuais, colocação em causa do código da nacionalidade e ataques contra os direitos dos migrantes.
O que esteve em causa foi mais uma vez a luta contra o desemprego e a precariedade, a defesa do poder de compra dos assalariados, dos desempregados e dos aposentados, a crise ao alojamento…
Quais as diferenças entre o que está em causa na manifestação gigante do último dia 4 de Outubro e o que se passa em Portugal? Mas aqui ao contrário de acolá, o primeiro-ministro sabe que ainda pode cantar de galo…resquícios da mentalidade que foi sendo incutida ao longo de cinco décadas.