Monday, February 12, 2007

HISTORIOGRAFIA SOCIOLÓGICA E O ENSAÍSMO HISTORICO-PEDAGÓGICO DE ANTÓNIO SÉRGIO


Algumas considerações-antónio sérgio, o homem e o pensador.
«Escrever história é uma maneira de nos libertarmos do passado»
Goethe

«Não enunciei nenhuma critica de literatura ou de arte usando de critérios de pedagogista social: realizei critica pedagógico-politica ( e não aos poetas, ao cabo de contas, mas aos partidários politicos de qualquer dos dois) com critérios politico-pedagogicos, e não literários.»

António Sérgio, prefácio da segunda edição, tomo I, Sá da Costa, Lisboa, pág.6.

«Quanto a mim parece-me que os males de que nos queixamos são fatalíssima consequência da estrutura da sociedade-e que só portanto terão remédio se nos metermos firmemente transformar essa estrutura, o que não é possível com prefações, - mas com reformas sociais e pedagógicas concatinadas, entrelaçadas como fios de um tecido único, as quais preparem o nosso povo para um uso razoável da liberdade e para empreender por si mesmo a sua emancipação social-económica.»

António Sérgio, Ensaios, Vol. II, Coimbra, 2ª Ed., Pág. 89.

«A educação é a arte de emancipar os homens»

Padre Didon

«Emancipar pela problemática»

António Sérgio

«Só isto, senhores, só isto! Falava eu de politica, e tão só de política; de obras tomadas como documentos históricos; de literatura, -não. Não foi pois o poeta quem eu trouxe a Terreiro, mas o incutidor de nacionalismo em que o arvoraram muitos; o junqueiro do nacionalismo que dele fizeram; o precursor do fascismo que nele havia. Ora, dando-me a tratar do inspirador político, e não do poeta, a atitude critica que ante o caso assumi (cumpre-me acentuado) não foi literária mas de crítica política. Ninguém tem o direito de me obrigar á força a ser crítico literário de mau grado meu, contra o meu livre arbítrio, como não há quem exija que o Instituto de Estatística, informador sobr o quantitativo da produção Agrícola, seja por isso uma escola de Ciência Agronómica, ou edite para amadores uma tradução das Geórgicas.»

António Sérgio, prefácio da segunda edição, tomo I, Sá da Costa, Lisboa, pág.12

« O que define uma ciência ou investigação não é o objecto que se analisa ou estuda: é o problema; e uma infinidade de problemas, como é evidente, se podem tratar sobre o mesmo objecto.»

António Sérgio, prefácio da 2ª ed., tomo I, Sá da Costa, Lisboa, pág.18

« Hoje, vejo aí adaptada por melhores obreiros essa nona orientação de problemática e crítica, --- e que é, em suma, o ensaísmo; e aos próprios que se desvelaram em me contradizer ou atacar (como negarem a plausibilidade de certa particular conjectura) os compeli por aí mesmo a virem labutar no meu campo, na minha revolucionária atmosfera, efectuando uma conversão que se me afigurou o essencial: a da passagem do eruditismo para as interpretações sociológicas;; do romantismo para a economia; da eloquência para a inteligência; do narrativo para a problemática; da descrição para a relacionação.»

António Sérgio, prefácio da 2ª ed., tomo I, Sá da Costa, Lisboa, pág.45.

«... e espero receber com o mínimo de espanto, graças à insensibilidade que provém do hábito, os brutos ataques do "intelectuais" lusitanos, que têm todos os talentos imagináveis, menos o talento de pensar de facto, de autenticamente compreender um argumento que não seja o cúmulo da simplicidade, ou onde haja um nadinha de distinção subtil.»

António Sérgio, Introdução geográfico-Sociológica à História de Portugal, Sá da Costa, Lisboa, pág.5.

«Aquilo que na vulgarização pode ser benéfico vem da atitude de espírito em que a vulgarização se faça, da inteligência efectiva com que a levam a cabo. O mundo das ideias, para os indivíduos cultos, é bem menos de certezas que de problemas. O mais que podemos, frequentíssimamente, é enunciar um problema em mais claros termos; e como a solução de qualquer problema suscita o aperecimento de problemas novos, a consciência da problemática é o que caracteriza o sábio. O que mais vale divulgar não é pois a "ciência", não são os conhecimentos, não são as doutrinas: o que mais vale divulgar é o espírito cientifico, que nem a ser o mesmo que o espírito crítico.»

Opus. Cit., pág.10.

A primeira grande tese que pretendo enunciar declaradamente, e que por sua vez justifica plenamente este trabalho para uma cadeira como é a de Filosofia em Portugal isto tudo independentemente de considerar a existência ou não de Filosofia nacional, é que um escritor e um pensador da estirpe mental de António Sérgio, por mais pesado tenha sido o tributo pago ao seu tempo, não pertence apenas ao tempo curto da sua biografia - enriquece e transforma uma cultura. É da natureza da acção mental que o pensador, no trânsito breve do seu presente, na sua dilucidação das perplexidades que foi compelido a viver e a equacionar, encerre ou entreabra a a via do porvir imediato ou mais longínquo. E há também um aspecto importante a considerar que é o seguinte: Tal como Herculano e Antero, nas conjunturas mentais de que foram pontos de gravitação, não se eximiram - nem podiam eximir-se sem que se negassem como tais - às implicações políticas nacionais decorrentes das suas atitudes éticas e mentais, António Sérgio correu, naturalmente, os riscos inerentes à condição de pensador português, agravados, aliás, pelas características bem peculiares do tempo em que lhe foi dado viver e agir. "Note que a política", escreveu um dia, "para este pobre de mim, foi o único meio de acção pedagógica que o condicionamento do país me consentiu. Uma época houve, como é sabido, em que pude enunciar toda a espécie de ideias que me pareciam justas e prestadias; porém, durante todo o tempo em que só fui escritor, os políticos não deram pelos meus escritos; criou-se um vácuo em torno de mim nas regiões de que dependia a governação da Grei, e a minha prédica resultou baldia (...) E depois? A política, para mim, tornou-se mais tarde a vereda única que me levasse à possibilidade de doutrinar sem estorvos. A minha arma de combate é só a pena; essa, porém, não desisto de possui-la. Deixem-me falar e escrever à vontade, sem restrição alguma, e ficarei no campo de pregação."(1) Em relação ao ensaísmo apelidado de reformista pergunta-se Joel Serrão: (2) "Quais são, pois, os grandes vectores do ensaísmo reformista de António Sérgio?"
E logo em seguida responde-nos da seguinte maneira: "Tal qual o entendemos, o reformismo de António Sérgio visa, essencialmente, a estes fins que, por mais interconexos sejam, nos atrevemos hierarquizar por este modo: o homem; a justiça na liberdade; ou, em sintese: humanismo, racionalismo e universalismo." E continua Joel Serrão: " Que o reformismo sergiano é, pelos seus fundamentos e pelos fins que visa, um humanismo, eis o que logo se apresenta com clareza a quem dele se abeire. Tudo principia no homem e com o homem - e tudo reverte, afinal, a ele, para seu maior bem. Da inteligência à acção, e desta à crítica dos resultados alcançados na dignificação do homem - ou seja, na sua emancipação - eis o ciclo em que se desenvolve o reformismo concebido e praticado por António Sérgio." O que poderemos dizer depois desta exposição de Joel Serrão? Nada, a não ser que iremos justificar estas suas palavras ao longo do trabalho. Mas não nos podemos esquecer dos limites impostos por nós no título do trabalho. António Sérgio é um pensador multifacetado e como tal complexo. A nossa exposição incidirá sobre textos em que a problemática histórico-pedagógica esteja patente, ou seja, por outras palavras (nas palavras do prof. Vasco de Magalhães Vilhena, na sua obra António Sérgio O Idealismo Critico e a Crise da Ideologia Burguesa ) incidirá sobre o idealismo histórico sergeano.foi através de análises concretas das realidades sociais portuguesas (tanto do passado como do presente e tendo sempre no horizonte o futuro) que se afirmou a concepção sociológica de Sérgio. Sociológica, e não simplesmente histórica, à maneira tradicional. Por ser de problemática complexa e por nos ocupar demasiado tempo, para além de sairmos dos limites do trabalho, não falaremos do nascimento da história crítica nem das suas possíveis influências em António Sérgio. Mas a Propósito disso é sempre bom recomendar a perspectiva do prof. Joaquim Barradas de Carvalho. (3) Se como afirma Barradas de Carvalho, Alexandre Herculano foi o primeiro historiador português (4) a verdade é que António Sérgio foi o introdutor na cultura portuguesa da história sociológica. Inclusivamente os seus trabalhos reputados de "históricos" e nos quais se dão os fenómenos económicos e da luta da classeparticular realce (5) são fundamentalmente análises sociológicas, pois se situam àquele nível do conhecimento social que busca investigar os fenómenos sociais totais. (6) António Sérgio só incidentalmente explorou os princípios que norteiam a sua prática sociológica o que provocou dúvidas em certos pontos da sua doutrina e certa incompreensão de base nas interpretações que por via de regra têm sido propostas para o seu pensamento, atribuindo-lhe uma significação que se lhe não coaduna. Para Sérgio como para Marx o económico é não só factor capital, mas determinante da história em todas as suas esferas, sem exclusão do mundo das ideias. O facto é que, neste ponto como em tantos outros, foi a doutrina de Sérgio muito mal percebida por uma parte considerável dos seus leitores. Dá-se o caso que os que se inclinaram a considerar da mesma espécie as concepções da história de Sérgio e de Marx desentenderam radicalmente uma e outra. Em parte, porém, não ´s porventura de excluir que de princípio certas afirmações de sérgio o tenham por vezes levado demasiado longe neste rumo; para melhor salientar o que lhe era particular no modo de conceber a história portuguesa. Porém, passado o efeito de choque inicial das considerações Histórico-Pedagógicas, do ensaio sobre a Conquista de Ceuta, do Bosquejo da História de Portugal, da Antologia do s Economistas Portugueses e da História de Portugal (da "Labor") que são respectivamente dos anos de 1915, de 1919, de 1922, de 1924 e de 1929, Sérgio foi naturalmente impelido a marcar mais incisivamente o que o distanciava da doutrinação em voga, e bem assim a repulsar intensões que desacertadamente lhe haviam atribuído.
Com efeito, reiteradas vezes Sérgio se opôs resolutamente ao que, na época em que ideou os seus primeiros escritos de matéria histórico-sociológica, se entendia em geral por determinismo económico e isto apesar de todos os seus ensaios histórico-sociológicos estarem organizados em função dos problemas chaves da economia do país, sob o duplo aspecto do condicionamento económico social e da consciente finalidade económica das descobertas marítimas e das conquistas portuguesas.
É fora de dúvida, e sob mais de um aspecto, que as investigações de Sérgio neste domínio são por completo estranhas às categorias do materialismo histórico.(7)
Ele próprio o disse sem rodeios: "Em mim, as interpretações económicas dos aconteceres históricos não têm coisa alguma de materialistas; para mim, os sucessos resultam das ideias dos homens (embora ideias sobre vantagens económicas)." (8) De resto, o de que se convenceu "foi disto, e só disto: que as acções da política (da política, note-se: não me refiro às ciências, ou à filosofia, ou às artes) têm sido dominadas, na maioria dos casos pela ideia de se conseguirem umas determinadas vantagens, a que cabe a designação de materiais-económicos, entendido este termo numa acepção bem larga."(9) A filosofia implícita nos seus escritos de história sociológica é sempre de facto uma filosofia idealista. Em Sérgio, o reconhecimento dos motivos económicos da acção guerreira, e em geral da acção política, é solidário da convicção que não se deve considerar a estrutura económica como anterior à política, mas sim como contemporanêa e inseparável dela. Sérgio recusa as categorias de base económica e de superestrutura: o seu modo de ver não considera a actividade social-económica como infraestrutura, de que a actividade social política fosse a superestrutura; vê-as a ambas como dois aspectos "coincidentes", "contemporâneos" (inseparáveis e correlativos): Alega que se a estrutura juridico-política é uma regulamentação da vida económica, a economia, por consequência, não lhe pode servir de pedestal.
É porém minha convicção que se esta tem sido sempre a teoria histórica de Sérgio, a sua análise concreta dos problemas históricos não poucas vezes inculca a noção contrária, e que é a seguinte: que a actividade económica é anterior, e serve de base, à organização política de uma sociedade. Ao que supomos foi por terem atentado mais na obra histórica de Sérgio do que na sua teoria da história que os leitores, em regra geral, foram levados a admitir - erroneamente- que Sérgio aceitava os princípios do materialismo histórico. Alguns até, viam nisso uma contradição entre um materialismo histórico implícito e uma explicita orientação filosófica geral idealista. Por tudo o que se disse , Sérgio afirma sem equivoco a sua oposição de princípio à filosofia do marxismo-leninismo.
Não queremos entrar em pormenores nem queremos agora e aqui, discutir se as hipóteses alvitradas por Sérgio para a inteligência do surto da nacionalidade e dos seus motivos do condicionamento das navegações, da conquista de Ceuta ou da crise social de 1383-1385 e da relação de forças de classe na revolução, por exemplo, são, ou não de aceitar, como não vem tão pouco ao caso inquirir aqui até que ponto as suas análises histórico-sociológicas contradizem efectivamente os princípios teóricos da concepção materialista da história e as suas consequências práticas. Indique-se simplesmente que nesses ensaios, como noutros, - Sérgio insistiu neste ponto - o que sobrevela (em oposição a certa história então em voga, ocamente retórica ou de pura erudição arquivistica) são a desconfiança em relação às formulações simplistas, o apego à norma da dúvida metódica, do espírito crítico ensaístico, da objectividade indagadora no exame das coisas, a atitude filosófica da problemática. É a introdução da temática social-económica, das relações de classe e dos conflitos de classe, a perspectiva sociológica, digamos assim, em que coloca os sucessos. O que sobreleva são as virtualidades pedagógicas, é o método racionalista. Ele mesmo o disse : " o que vale sobretudo (nos meus escritos históricos) é o operar da análise, o espírito ensaístico (...); depois ,é o feixe de luz de positividade sociológica a que a operação do analista faz observar os factos; e a conclusão particular é o que importa menos."(10)
Passemos agora a uma outra questão e reflectamos sobre a seguinte frase de António Sérgio: "A alvorada é que testemunhará da treva, e tomados do anseio do que está por vir é que iremos observar o que já passou."(11)
Perante afirmações como esta, talvez seja lícito inquirir a que fica, afinal, reduzida a categoria histórica, se é que ela existe. Eis a resposta dada com clareza meridiana: "Histórico, - todo o passado? Mil vezes não, senhor arqueologo: um facto define-se pela sua função no fluxo de vida em que actuou, e a história só é viva quando os sucessos são considerados em relação àquilo que veio depois, e ordenados por conseguinte numa serie processual, como agentes de transformação e factores de desenvolvimento da consciência da humanidade. Só são históricos, portanto, os factores que tiveram efeito no espírito humano sobrevindo, e a sua história é proporcional à sua função humanizadora, à sua energia de progressão, à sua capacidade de servir de degrau à ascensão futura da humanidade."(12) Retenhamos essa última ideia: " a ascenção futura da humanidade". Na verdade, a historiografia sergiana é tão antipassadista , prospectivista. Mas tratar-se-à aí porventura de uma atênção prestada ao futuro da grei nacional?
O estrutural universalismo intelectualista de Sérgio , leva-o necessariamente, à conclusão de que "não há histórias nacionais no rigor do termo" e de que " a compreensão dos factos é tanto mais imperfeita quanto mais nacionalista é a visão do historiógrafo ", (13) e ainda de que " o que existe é a história da humanidade , e o papel de cada nação na história da humanidade."(14)
Muito mais do que um historiador, (isto é um aspecto que tem que ficar bem esclarecido) ou um filósofo, ou um sociológico, ou um crítico literário, a obra de António Sérgio revela, acima de tudo, um pedagogista, um doutrinador pertinaz da boa nova do exame crítico, das razões claramente inteligíveis, - da inteligência, em suma. Ou por outras palavras ainda: o filósofo, o historiador, o sociólogo, o crítico literário, por maiores que sejam, conexionam-se sempre com aquilo que Sérgio, fundamentalmente, é : um clere que se não esquivou ao imperativo ético de ensinar as gentes a pensar com inteligência, e em termos de agora e de futuro.
Ele tem insistido sempre em que se não considera um " historiador". " A minha pessoa, declara, que não tem pretensões a historiador"(15). Por mim, nunca deparei, em parte alguma da sua obra, com afirmação de ter diverso. Por que tem levado a cabo então obras de escopo histórico? Por que razão se abalançou a uma História de Portugal? Por que motivo o último tomo dos seus ensaios é inteiramente dedicado a temas históricos que vão desde os Lusitanos até Oliveira Martins? A coisa é, afinal, simples, e o próprio autor no-la explica: " Porque a minha reacção contra tais " miragens " (Teses de Oliveira Martins e Teófilo braga) não era um acto de historiador ou filósofo; era, simplesmente, o dum pedagogista. A mim, - que não sou erudito nem pretendo sê-lo, - pouco me interessaria a atitude de espírito com que um povo considera a sua própria História, se ela não influísse na atitude de espírito com que ele se orienta no seu viver presente. Mas influi. O intelecto é uno. Quem vê com " miragens " o seu passado, constroi com " miragens " o seu futuro. Com miragens retóricas navegamos nós - na história, na literatura, na economia e na política, - e não os portugueses do século XV. Repito: o que me interessa não é a História; mas somente a mentalidade com que nos a abordamos: por isso, e só por isso, tenho eu escrito temas de História."(16)
Fidelidade exemplar a um destino de pedagogista eis o que poderemos dizer a todas as páginas que Sérgio escreveu sobre a história. Dir-se-ia que o escopo essencial de Sérgio visa mais o ensinar-nos, a todos, a sermos historiadores do que propriamente o levar a cabo, ele mesmo, uma elaboração histórica de primeira grandeza.
E na verdade, a todos nos ensinou, a todos nos impelindo, de uma forma ou outra, imediata ou mediantemente, para novos caminhos, para novas perspectivas, para novos problemas, - para um renovar da problemática... " A audácia especulativa no fantasiar de hipóteses é absolutamente necessária para o progresso do saber: mas cumpre que a acompamhemos de uma desconfiança infinita em relação a cada um dos produtos dela, e de não menor amor e respeito inconcusso a todas as modalidades de erudição mais miuda, da medição exactíssima, do registo paciente, da observação cuidadosa..."(17). Vejamos estas considerações de metodologia histórica que Sérgio nos apresenta; Dir-se-ia que o que ele propõe é uma evidência: Sem dúvida! O que Sérgio apresenta é preceito elementaríssimo de toda a investigação científica inclusivé a histórica. Mas é importante esta atitude; impelir os portugueses à actividade científica autêntica, e exemplificá-la com análises efectivas é uma tarefa de importância primacial que nunca está concluída. Daí a importância de Sérgio e a actualidade da sua obra. Não sendo, a bem dizer, nem um economista nem um sociólogo, (pelas razões que de leve mencionamos já), importa salientar que, no domínio da história, ninguém, entre nós, como Sérgio (18) chamou a atenção dos historiadores para " o condicionamento económico dos nossos feitos, a dependência em que estiveram sempre das necessidades vitais da Europa inteira, e a consciente finalidade, o objectivo comercial, a científica execução das empresas de descobrimento." (19)
Para Sérgio não há condicionamento absoluto (económico, social, técnico, etc) da acção humana através do tempo e agora. O homem não é apenas um efeito mecânico e passivo de um conjunto de condições soberanas e activas; ele é também, pela estrutural actividade do intelecto, uma das condições a integrar no processus histórico. Penso que também assim é. E também penso que a própria concepção que da história se tenha é um elemento capital para a compreensão do presente e para a preparação do porvir.
A atitude ensaística tem uma longa história desde Montaigne(20) até aos nossos dias. Não cabe neste trabalho relatar o que foi essa história. De qualquer das maneiras o que podemos dizer em relação a António Sérgio foi quem no panorama nacional se destacou na cultura do ensaio. (21)
Dá-se Sérgio, nos ensaios, como " racionalista de método, humanista crítico, em moral e filosofia." (22)
* Para António Sérgio, o vício básico da nossa mentalidade, consiste no desprezo das disciplinas da inteligência.
Aliás como Sérgio salienta muito bem é um mal que vem de longe. Esta crise que se arrasta há longos séculos com terríveis prejuízos da grei ( como diria Sérgio) teve apesar de tudo tentativas terapeuticas operadas por um Luis António Verney, um Ribeiro Sanches, um Alexandre Herculano e um Antero de Quental só para citar os mais importantes.
** Vejamos o que ele diz acerca dos seus ensaios: " Não por humildade chamei a isto Ensaios. Bem ao contrário: com susto verdadeiro de parecer aí presumido, e de que me ficasse a obrazinha ridicularmente esmagada pelas pesadíssimas responsabilidades que eu atribuia ao título. A modéstia (23) levar-me-ia a preferir "opúsculos", "miscelânça", "monografias", "estudos", - rótulos indefinido, sem altas tradições que constranjam. Porque o ensaio, com efeito, é a mais nítida forma de ver a criação ideológica; do exercício real, efectivo, de uma inteligência viva que indaga. Evoca a pesquisa, o tenteio, o ímpeto descobridor, o progresso. (24) Um "tratado" pode limitar-se à mera organização do já feito, ou a uma obra de carácter primacialmente erudito, ou ainda à aplicação a casos particulares definidos de uma teoria genérica já previamente admitida; pelo contrário, o ensaio promete originalidade, agilidade, finura; o esto juvenil, desportista; o duvidar metódico cartesiano, que está sempre aberto à problemática." (25)(26)
Para Sérgio o português habituado a manejar palavras e não ideias a aceitar a retórica pela dialéctica furta-se ao esforço pessoal da clareza e distinção do pensamento. A situação é a seguinte: ausência de espírito crítico, e, como tal, ausência de objectividade, ironia, auto-domínio, tolerância, veracidade, sensatez, universalismo.
De onde provém esta mentalidade anti-crítica? Da escola é a resposta de Sérgio. Dos nossos meios de ensino. Para desterrar esta mentalidade é urgente reformar a estrutura metodológica da escola.
A nossa escola apresenta as seguintes características: é abstracta (quando devia ser concreta), é verbalista (quando devia ser executante), é descritiva (quando devia ser explicativa), é mnmónica (quando devia ser inteligente), é absolutista (quando devia ser democrática).
Sérgio pergunta: Como combater tais vícios? E logo em seguida responde: Mediante precisamente o ensaísmo, mediante o treino dos alunos no jogo livre e organizado das ideias, no exame da dúvida metódica, no aprendizado da iniciativa experimental, no exercício do espírito crítico.
O que é que Sérgio propõe? Propõe a organização de uma escola de instrução primária seleccionadora fundada sobre rigorosas bases científicas e em conexão imediata com as necessidades económicas concretas, de cada região em especial.
António Sérgio é, por estrutura temperamental, ou por invenerável vocação, um pedagogo-nato, um apóstolo reformista. Isto e só isto. Nunca é demais dizer que os seus ensaios sobre economia, história, política, literatura, filosofia, não são o trabalho especializado de um profissional de economia, história, política, literatura, filosofia, mas sim o trabalho exemplificativo, ilustrativo da técnica, ou modo, como se deve aplicar o método ensaístico aos vários domínios do saber, isto é, do processo como se organiza a cultura. Também Montaigne, Platão, Bacon, tratarm de variados temas; um interior vínculo prende, organicamente, todos esses trabalhos: a unidade do ensaísmo, da atitude critica.
" Sou um crítico, um treinador, um pedagogista, um ginasta mental", diz Sérgio. "Os meus escritos...são livros de análise, de exame crítico, de avaliação de ideias, de contrastaria, de hipóteses, de movimento mental." Nestas palavras estão inclusas todas as características já assinaladas como constituindo a verdadeira essência do ensaio.
Há um aspecto que não podemos deixar de mencionar; para Sérgio a reforma da mentalidade pressupõe o corregimento implica, por sua vez, a planificação económico-social, a racionalização da economia, imposta pelos próprios progressos revolucionários da técnica. A reforma económica, como meio instrumental, visará a fins de natureza ética, a maior emancipação de pessoa humana, a mais alta dignificação espiritual do trabalhador.
Termino com estes dois passos sergianos: " Aquilo que considero, nos meus escritos, como mais importante para os jovens leitores, não são as ideias, mas a atitude: a atitude crítica." "Cultura é problemática, confrontação, exame."
A perspectiva sociológica só foi introduzida em plenitude na historiografia portuguesa a partir da segunda década do nosso século. Deve-se a António Sérgio a fundamental missão desbravadora e desmistificadora de interpretar e dilucidar a história de Portugal, à luz nova da visão sociológica e também económica, geográfica e cultural que lhe desvenda os erros do passado e lhe aponta os rumos do futuro.
A introdução da perspectiva sociológica na historiografia portuguesa coíncide com o período histórico da vigência da primeira República e não é estranha a essa circunstância.
Contribui para isso, efectivamente, o movimento de renovação mental encetado por uma associação ou agrupamento de intelectuais republicanos e nacionalistas que se congregaram sob a designação significativa de "Renascença Portuguesa". Jaime Cortesão, sócio fundador, António Sérgio e Raul Proença imprimiram-lhe, em contraposição com outra corrente, a dos "saudosistas", uma feição progressista, racional, crítica e interventora. Mas isso é uma história que não cabe no âmbito deste trabalho.
Em 1913 Sérgio lançava no Rio de Janeiro sobre a História portuguesa uma série de pistas conducentes a iluminar, à luz nova da interpretação sociológica (e também económica, e também geográfica, e também cultural) múltilplos aspectos que permitissem responder sobre vários problemas inquietantes da sociedade portuguesa, nomeadamente o seu persistente bloqueamento e o isolamento de Portugal da Europa. Quais as causas históricas deste atrofiamento social e cultural?
Foi para responder a esta questão que tanto Sérgio com Cortesão se viraram para os problemas da História.
Cortesão como historiador defendeu uma visão totalizante da História ("compreender a totalidade da nossa História") e ("a história social domina hoje toda a História") e consequentemente, " caminhando a par com a geografia humana e a sociologia, sem se confundir com elas, assenta de um lado sobre o económico, e, do outro, sobre a variações e as modalidades da distribuição do povoamento humano." (28)
Esta absorção de diferentes disciplinas era o resultado do despertar das ciências sociais, que em Portugal se afirmara desde fins do século passado. A pluridiscipliplinaridade entrava assim na historiografia portuguesa do século XX pelas mãos de Cortesão e Sérgio. Mas deixemos Cortesão em paz e dirijamos a nossa atenção para Sérgio.
Para Sérgio a interpretação histórica interessa por dois aspectos fundamentais. Por um lado pelo que ela representa de exigência crítica, a interpretação sendo uma questão essencialmente de coerência do pensamento. (29)
Por outro lado, do ponto de vista social, pelo que ela implica no comportamento. Já em 1920 havia dito: "Águas passadas não movem moinhos; move o moinho, porém, a atitude do presente perante elas, e por isso esta, e só esta, tenho eu por alvo na minha crítica." (30) E em 1932: "A História, ao cabo de contas, serve sobretudo para nos libertarmos dela." Explicará noutra altura (1941) o intento prático e pedagógico com que encarou os problemas da História nacional: " Tomo-a como um meio dos mais adequados para nos familiarizarmos com os casos da nação presente, eram as necessidades e os problemas de Portugal de agora. Penso no agora - e na tua acção. O deixarmos aos mortos o enterrar os seus mortos e o seguirmos "avante para além dos túmulos" (como aconselhava um Goethe) é hoje mais necessário do que nunca o foi." (31) Foi a atitude do pedagigista, (como já dissemos) de que reclamou toda a vida, que lhe solicitou a indagação da História." O meu objectivo não é propriamente o de informar sobre a História, mas o de formar o espírito da gente moça para uma visão filosófica e sociológica dos factos, como preparação para a obra de elevação do povo, que lhe cumpre agora empreender." (32)
Para que a História pudesse responder esclarecedoramente aos problemas que lhe eram postos em busca do porvir, os próprios métodos de a escrever tinham de ser repensados e substituídos, em função de problemáticas novas. Este foi o grande papel de sérgio, a sua contribuição para revolucionar a historiografia portuguesa. Disse-o em 1949: "Os caminhos da renovação que em nossa História iniciei consistiram muito menos nas interpretações alvitradas, e nos trabalhos de análise com que pretendi aboná-las, do que na própria circunstância de querer interpretar e entender, do que na nova mentalidade com que encarava as coisas, do que na perspectiva sociológica em que colocava os factos, do que na introdução da problemática onde se encontrava relatos, onde só havia aceitação das interpretações dos cronistas. Foi assim que Aljubarrota e a conquista de Ceuta, foi assim que as navegações, foi assim que as conquistas se tornaram problemas sociais-económicos, em vez de narrativas de aventurivismo céltico." (33)
No entanto, Sérgio não foi apenas um crítico e um problematizador. Foi também - para muitos - um satírico do academismo, do dogmatismo e do especialismo infecundo. Ao discutir a tese de um professor que o impugnara no final da década de 1920, agregou o seguinte comentário: " A tese a que aqui se responde não mereceria discussão se ela não fosse um documento típico sobre a nossa realidade universitária. De facto, o autor, graças a ela, foi admitido no corpo docente da Faculdade de Letras." (34)
E aos positivista que lhe dissessem que a demonstração de uma hipotese histórica residia no testemunho de um documento e só nele, respondia, esclarecendo: "Isso, em primeiro lugar, é uma noção não crítica do testemunho histórico. A primeira operação do erudito crítico não é a de dar fé ao documento que lê: é a de críticar o testemunho dele. O testemunho histórico não é um Deus: Quem escreveu o testemunho foi um homem falível, como outro qualquer - sobretudo o autor do testemunho directo. Não crítico, por exemplo, é o autor da tese em que sou impugnado." (35) (36)
Enfim, talvez por essas e outras manifestações da sua veia polémico-satírica, Sérgio continua hoje a ser o grande ausente das nossas escolas.
O seu nome serve por vezes para rótulos, para etiquetas, até para notas de banco, mas a sagacidade crítica do seu espírito continua alheia, estranha ao pensamento oficial neste Portugal que após 74 pretende-se democrático.
António Sérgio é o grande exilado da inteligência portuguesa. E, no entanto, é pelo ensino de Sérgio que melhor podemos compreender o grande significado histórico da nossa revolução. Ele que já não a viveu, (morreu em 1969) mas que a havia prescutado nas linhas profundas, estruturais, que condicionaram a evolução histórica da sociedade portuguesa (37).
Ainda temos muito a aprender com Sérgio. Oxalá o aproveitemos !

Conclusão e aspectos a ter em conta

A perspectiva de António Sérgio é a do ensaísmo, a daquele que prefere a interpretação e a polémica à erudição. Ele aplica na abordagem histórica uma atitude e um espírito criticos, tendentes à interpretação, ao ensaio, ao colocar de hipóteses. A sua história é fundamentalmente um exercício crítico polémico e uma ginástica interpretativa.
A função do fazer história consiste em instruir, em formar. E formar quem? Antes de mais as futuras élites, às quais o autor atribui um papel determinante na condução do país, para que elas, com um conhecimento verdadeiro dos erros do passado, consigam regenerar Portugal. E Portugal reabilitar-se-à com as virtudes da Fixação, isto é, com estímulo do gosto pelo trabalho autenticamente produtivo. Esta acção, que obriga a uma reforma das mentalidades e de todo o sistema educativo, será parcialmente realizada por uma elite esclarecida e conhecedora dos erros históricos nacionais. Daí a função pedagógica do conhecimento histórico, o que se prende, aliás, à globalidade do seu sistema de valores e à sua opção filosófica - a filosofia, essencialmente tomada como atitude crítica, liga-se à pedagogia a fim de ensinar a agir e a regenerar socialmente.
Para além de virtudes inegáveis e por de mais referidas, a concepção historiográfica de António Sérgio contém, parece-nos, aspectos criticáveis a apontar. Em primeiro lugar, a colocação constante da tónica no duvidar, no interpretar, no ensaiar, no colocar de hipoteses que justificam uma tese à priori formulada, empobrecem a evolução do próprio conhecimento e da inovação científica. É que por muito válida que seja a atitude crítica, por muito que pese o rigor do encadeamento formal das hipóteses, não é suficiente. Um segundo aspecto a considerar é a questão dos conceitos criados e/ou usados por Sérgio - relativamente pobres e sedutores.
Não que a conceptualização em história não seja dispensável. Todavia, é muitas vezes forçada a apropriação da realidade, por certos conceitos; já que são muito mais resposta a uma intenção interpretativa previamente delineada de que a aplicação do rigor e da imparcialidade científica possível.
Finalmente, se a História não deve de modo algum abandonar a filosofia, não deve contudo carregar uma filosofia da história, não deve ser portadora, à partida, de um sentido, de uma intenção. atribuiu-se sistematicamente à história uma função formativa, pedagógica, instrutiva é uma opção, porém retira-se-lhe parcialmente a sua dimensão de disciplina cientificamente conduzida.

Notas:

(1) Cartas do Terceiro Homem,3ª série, pág. 86.

(2) "Para uma Apologia de António Sérgio" in Portugueses Somos, Editorial Minerva, Livros Horizonte, S. L.,S. D., pág. 90.

(3) Carvalho, Joaquim Barradas de - Da História Crónica à História Ciência, 3ª ed., Livros Horizonte, nº 16,Lisboa, 1979.

(4) Excluindo naturalmente o caso excepcional que constitui Fernão Lopes.

(5) Ver, por exemplo: Considerações Histórico-Pedagógicas, Porto, 1915; Bosquejo da História de Portugal, Lisboa, 1922; Antologia dos Economistas Portugueses, Lisboa, 1924; História de Portugal, Barcelona,1929, e nos diversos tomos dos Ensaios, os Ensaios referentes à problemática histórica nomeadamente " A Conquista de Ceuta" in Ensaios I " O Reino Cadaveroso ou o problema da cultura em Portugal" e " As Duas Políticas Nacionais" in Ensaios II, Ainda " a Política de Fixação e a Política dos Transportes" in Ensaio III " Repreensões Duma Hipótese: Ceuta, As Navegações e a Génese de Portugal" in Ensaios IV " Sobre a Revolução de 1383-1385" in Ensaios VIII, etc, etc.

(6) Fenómenos sociais totais na mais moderna tradição sociológica dum Marcel Mauss.

(7) Se há dúvidas sobre esta matéria atende-se no que Sérgio escreveu no prefácio da segunda edição do primeiro tomo dos Ensaios Sá da Costa, Lisboa, pág. 41 a 45. Vejamos alguns excertos exemplificativos: " As minhas interpretações sociais-económicas relativas ao passado da nação portuguesa levaram não poucos dos meus leitores a alfinetar-lhes o rótulo de " materialismo histórico": e como sucede, ademais, que a psicologia do intelecto que está sempre implícita em tudo aquilo que digo e escrevo, bem como a ética que lhe vai ligada, são de facto idealistas, pareceu-lhes que me roía uma contradição profunda, tanto mais que é obvio que o meu credo político, de teor socialista, me situa no campo de numerosos homens que a si mes mos se classificam de "materialistas". Ora, o que me parece que essas críticas incontestávelmente demonstram é apenas que o pensamento de quase todos os homens se conduz pelas palavras de que eles próprios usam, e não pelo liame de genuínas ideias, e não pela natureza real dos actos. No presente caso, tudo se reduz, afinal de contas, ao emprego arbitrário da palavra "materialismo". " e sempre repeli essa noção infantil de que as nossas ideias sejam reflexos das coisas." Mais à frente António Sérgio afirma: " Não existem forças de produção em si: as forças que existem só produzem algo quando o homem tem a ideia de as fazer produzir e as põe ao serviço dessa ideia." e ainda: " Em resumo: reconheço a realidade de numerosos factos que têm sido apontados no acontecer histórico pelos que se chamam a si mesmos "materialistas históricos": mas vejo nas origens desses mesmos factos umas tantas ideias que criou a mente, e no quadro interpretativo que deles concebo não podem surpreender-se quaiquer feições a que convenha o epíteto de "materialistas".

(8) Ensaios,I, Sá da Costa, Lisboa, pág. 43.

(9) Op. cit., pág. 42.

(10)Op. cit. pág. 41 - 45.

(11)Introdução Geográfica-Sociológica à História de Portugal, Sá da Costa, Lisboa, pág. 21.

(12)Ensaios, I, Coimbra pág. 167.

(13)Ensaios, VIII, Coimbra, pág. 127.

(14)Op. cit., pág. 90.

(15)Ensaios, IV, Coimbra, pág. 239.

(16)Op. cit., pág. 256.

(17)Introdução Geográfico-Sociológica à História de Portugal, Sá da Costa, Lisboa, pág. 18-19.

(18)Talvez à excepção de Jaime Cortesão, mas de qualquer das maneiras ligeiramente posterior às primeiras obras de cariz historiográfico de António Sérgio.

(19)Antologia dos Economistas Portugueses, Publicações da B. Nacional, Lisboa, 1924, pág. III.

(20)E até mesmo desde Platão se considerarmos os seus diálogos como ensaios. Tudo depende do que entendemos por "ensaio".

(21)Como prova estão os oito volumes de Ensaios publicados na Sá da Costa.

(22)Ensaios, vol. I (1920), vol. II (1929), vol. III (1932), vol. IV (1934), vol. V (1936).

(23)Característica sempre patente em todas as obras de sérgio.

(24)Por isso mesmo é que é correcto chamar aos ensaios de Sérgio "ensaios". Todas estas características estão patentes nas obras de Sérgio: "o evocar da pesquisa, o tenteio, o ímpeto descobridor, o progresso.".

(25)Por tudo o que Sérgio disse e por tudo aquilo que ele vai dizer a seguir, podemos deste ponto de vista, chamar ensaio aos diálogos de Platão, assim como ao Discurso do Método de Descartes ou ainda às três Críticas de Kant.

(26)Introdução Geográfica-Sociológica à História de Portugal, Sá da Costa, Lisboa, pág. 46.

(27)Na verdade, Jaime Cortesão fazia o mesmo mas em Portugal. O papel de cortesão na introdução duma visão sociológica na História é tão importante como o desempenhado por António Sérgio.

(28)In Obras Completas, I, Lisboa, Livros Horizonte, 1974, Pág. 219-220. Já Herculano tinha defendido que a história devia preocupar-se mais com a sociedade do que com os indíviduos, mais com as instituições do que com os acontecimentos.

(29)"A única verificação de uma hipótese histórica (refiro-me às relativas aos movimentos gerais) é a própria coerência do conjunto de ideias a que preside a hipótese que se imaginou. Assim sucede precisamente, com as hipóteses gerais das ciências físicas. A prova de hipótese - repito - é a grande clareza com que nos faz ver as coisas, a unidade inteligível que introduz nos factos, nos testemunhos variados, nas percepções havidas. É essa a prova, e essa só". (in Ensaios, vol. IV, Sá da Costa, Lisboa, pág. 207).

(30)Op. cit., pág. 84.

(31)"Divagações proenciais" à Introdução Geográfico-Sociológica à História de Portugal, Sá da Costa, Lisboa,pág. 84.

(32)Ensaios, vol. IV, Sá da Costa, Lisboa, pág. 4.

(33)Ensaios, vol. I, Sá da Costa, Lisboa, pág. 45.

(34)Ensaios, vol. IV, Sá da Costa, Lisboa, pág. 224.

(35)Ensaios, vol. II, Sá da Costa, Lisboa, pág. 21.

(36)Esta crítica de Sérgio ao Positivismo podia ter sido feita por Lucien Febvre. Aliás este historiador francês faz este tipo de críticas ao Positivismo na obra: Combates pela História, Editorial Presença, 2 vols., Lisboa, 1977.

(37)Em 1923 Sérgio reconhecia que o maior acto revolucionário da nossa História tinha sido a independência do Brasil - afinal, o início da nossa descolonização...