A IDEIA Nº 55 REVISTA LIBERTÁRIA
Esta será a última crítica a um novo número d' A Ideia que aparecerá nas páginas d' A Batalha, ou de qualquer outra publicação, pelo simples facto que este é o último número que A Ideia publica. O nosso grande objectivo nesta pequena resenha será, não tanto o tecer comentários aos diversos artigos, subordinados ao tema "Deus, Religião e Poder", mas o de fazer uma breve reflexão sobre o inevitável fim desta revista libertária que já foi de cultura e pensamento anarquista. E, talvez , que esta mudança de subtítulo, tenha alguma coisa a ver com este fim inglório, brusco e aparentemente sem motivo...
Mas indiscutivelmente que o grande motivo para o terminus desta publicação, que dentro da imprensa libertária portuguesa era a mais conhecida internacionalmente juntamente com A Batalha, é a total desmotivação que imperava nestes últimos tempos no conselho redactorial, assim como, na maior parte dos sócios da Sementeira que apoiavam a revista.
Na impossibilidade de se constituir um novo conselho redactorial com capacidade de continuar com a anarquista Ideia, cuja origem remonta a ainda antes do 25 de Abril de 74, o único caminho que restou à Assembleia Geral da Sementeira, foi o de apontar para a interrupção da revista, já a partir deste número... E, apesar de tudo, havia condições materiais que possibilitariam a continuação d'A Ideia, sem grandes problemas de futuro.
Mais: Este número conseguido, congregava um conjunto de textos de nível, que giravam à volta da temática religiosa e suas eventuais ligações, com formas libertárias de pensar e sentir. Era o caso dos artigos de Miguel Serras Pereira, Religião, Cientismo e Autonomia, João Freire, Entre a Cruz e o Compasso - Os Anarquistas Portuguese, a Igreja a Maçonaria, António Cândido Franco, A ideia de Deus e o Pensamento Libertário, (trata fundamentalmente da questão em Sampaio Bruno). E ainda um breve artigo do padre operário Manuel Crespo, intitulado simplesmente Padres Operários. A propósito da Questão Islâmica, artigo de Carlos Reis, enviado de Bruxelas.
E ainda para completar esta "divina" Ideia, uma artigo de Castoriadis, Psicanálise e Política, com tradução de Miguel Serras Pereira (o que é logo à partida garantia de qualidade), uma artigo de Manuela Parreira da Silva sobre Mário de Sá Carneiro no centenário do seu nascimento, Ele próprio e o Outro (sendo este "Outro" o Fernando Pessoa, pois claro).
Inclui ainda a clássica secção de "Debate", com um texto polémico de Thomas Holterman sobre Direito e Organização Política, com tradução de João Freire, em que se diz taxativamente na nota introdutória: "As ideias aqui expendidas não deixarão de suscitar discussão e confronto de opiniões". Mas como, perguntamos nós, se a revista vai acabar? O Arquivo, a Leitura, o Registo e a Crónica habitual de Beldiabo, terminam de vez com este número e com esta revista.
Para sermos sinceros conosco mesmos e com os leitores, há uma coisa que decididamente não gostamos neste número. É o Editorial, onde se dá conta de que "a presente comissão de Redacção, bem como o director da revista, cessam, com a publicação deste número as suas funções." E não gostamos, porque obviamente que a nossa posição seria pela continuação da publicação.
O fim d' A Ideia é uma machadada importante (mais uma), para o eufemisticamente chamado Movimento Libertário Português. A responsabilidade, cabe por inteiro, àqueles que impossibilitaram a sua continuação.
Perante isto , A Batalha fica isolada no combate anarquista, prevendo-se uma longa travessia no deserto. Não será caso para desanimar, pois ao longo destas sete décadas de vida, momentos mais difíceis foram vividos e superados. Por isso e para já é urgente que se diga: "Que se dana a Ideia" e "Viva A Batalha".
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