Tuesday, February 13, 2007

PROUDHON SÉCULO XX: QUE SENTIDO?

Realizou-se no passado no dia 27 de Agosto no Centro de estudos Libertário, uma palestra proferida pelo autor destas linhas e subordinada ao tema "A Dialéctica Proudhoniana como Método e como Movimento Real da Sociedade". É importante interrogar: Que sentido pode ter hoje e aqui em Portugal o estudo e o debate da vida e fundamentalmente da obra dum autor como Pierre-Joseph Proudhon?
É necessário ter presente que a obra de Proudhon, toca uma multitude de problemas que é urgente ter em conta: Em primeiro Lugar, o regime económico, (como por exemplo nas obras Que é a Propriedade de 1840 e Organização do Crédito de 1848) a organização social, (obras como Solução do Problema Social de 1848 e Da Capacidade Política das Classes Trabalhadoras de 1865) o problema do Estado, (As Confissões de um Revolucionário de 1849, A Ideia Geral da revolução no Século XIX de 1859 e O Princípio Federativo de 1863), a Filosofia, (Sistema das Contradições Económicas ou Filosofia da miséria de 1846) a questão da justiça (Da Justiça na Revolução e na Igreja de 1858) e ainda os Problemas Internacionais e a questão Nacional ( A Guerra e a Paz, 1861, A Federação e a Unidade em Itália, 1862, Os Tratados de 1815, 1863).
A sua obra é colossal e de tipo enciclopédico. Para cima de 38 volumes, mais 14 volumas de correspondência e 10 volumes de notas íntimas (artigos, dispersos, etc.) As principais questões levantadas por Proudhon foram as seguintes:
- A crítica do capitalismo, onde se salienta a análise crítica da propriedade e a análise das contradições económicas.
- As classes sociais, em que as classes que Proudhon se referiu foram fundamentalmente a grande burguesia, a classe média, o campesinato e as classe operárias.
- A Crítica do Estado.
- A Crítica da Religião.
- A Dialéctica e o seu objecto, onde se sublinha a dialéctica social e a realidade do social.
- A Filosofia social, onde pontifica o trabalho como facto e como valor, a vida social e o problema da justiça.
- A Revolução social.
- A Economia mutualista, onde se tem que se ter em conta dos princípios às reformas, a agricultura mutualista, o artesanato da produção e a sua planificação.
- Finalmente, temos o problema fundamental de todo este sistema, melhor dizendo, deste anti-sistema, porque não autoritário nem dogmático, que é a questão de Federalismo, pelo qual o autor do presente artigo se preocupa em destrinçar os princípios e de resolver a democracia federal.
Sinteticamente, poderíamos dizer que a palestra de dia 27 baseou-se, preponderadamente, nas obras De La Création de l'Ordre dans l'Umanité (1843), Sistème des Contradictions Économiques (1846), De la Justice dans la Révolution et dans l'Èglise (1858), Confessions d'un Révolutionnaire (1849) e na obra póstuma De la Capacité Politique des Classes Ouvriéres (1865).
O autor, dentro da questão da dialéctica serial de Proudhon focou os seguintes aspectos:
- A dialéctica como processo real.
- O antagonismo antonómico (lei motriz)
- A justiça - equilíbrio (lei reguladora).
- O processo serial (lei realizadora).
Estas palavras são suficientes para mostrar o alcance e a profundidade das questões levantadas e respondidas por Proudhon. Pergunta-se novamente: Que interesse poderá ter, abordar estes problemas em relação a este autor e dentro do contexto do movimento libertário em Portugal? Penso que a situação política e social que estamos a viver, aponta-nos algumas deixas para responder a esta questão, senão vejamos: em termos globais, o que é que temos? Um partido conservador que está no poder e cuja imagem política começa a esbater-se. É, no entanto, minha convicção que este desgaste político será, infelizmente, ainda moroso. Do lado da oposição parlamentar, temos um partido comunista, que desde 74 nunca esteve em tão maus lençóis, quer no exterior da sua máquina, (lembrar a baixa votação registada nas últimas eleições legislativas) quer no interior, (o problema dos dissidentes e as críticas que se vão tecendo à direcção). Para além disso os burocratas sindicais que lhe são afectos, não têm resposta concreta face às medidas regressivas que o governo tem tomado (pacote laboral, pacote agrícola, etc).
temos também um partido socialista que de tanto meter e tirar o socialismo da gaveta, está perdido, e não sabe que direcção tomar. Do resto da oposição nem vale a pena falar.
Concluindo, abrem-se objectivamente neste momento em Portugal, oportunidades novas para que o movimento libertário faça ouvir as suas vozes e possas voltar a ter uma palavra como durante a I República. Acredito firmemente, que pelo menos do ponto de vista teórico, a situação política e social em Portugal é favorável a vozes extra parlamentares, extra classe política. Trata-se de pegar nesta oportunidade e de aplicar medidas e acções à realidade social, para que a situação possa a pouco e pouco ser alterada. Que medidas e que acções? Neste momento não sei responder a este problema pois não tenho soluções na manga. O que sei é que o estudo e o debate dos pensadores de cariz libertário pode ser proveitoso, entre os quais destaco Proudhon, para dar resposta a esta questão. O que me merece que é fundamental para começar a resolver estes problemas, é que o conjunto dos grupos e associações libertárias pensem e agem em termos unitários desenvolvendo iniciativas para pelo menos mostrar que estamos vivos.
Este é um ponto de honra que faço questão em salientar para que a situação começe a tomar um outro rumo. No entanto, esta perspectiva não se encontra no horizonte reflexivo da maior parte dos libertários, Hélas.