Thursday, January 25, 2007

FAMÍLIA E AUTORITARISMO


"O respeito para com a lei e a ordem do Estado parecem inseparavelmente ligadas ao respeito das crianças para com os adultos da sua família"

Max Horkheimer

Nenhuma outra instituição da sociedade moderna revela a natureza problemática da família moderna mais claramente do que o divórcio. A revolução francesa, que antecipou todas as fases e todos os aspectos do período seguinte, torna o divórcio tão fácil que o casamento era substituído de facto por um mero vínculo contratual, o único tipo de relação em estreita harmonia com o princípio de individualidade. Hoje, em muitos grupos sociais, o matrimónio foi de novo praticamente abolido pela instituição do divórcio; os indivíduos são cambiáveis na matrimónio como nas relações comerciais: contrai-se um novo matrimónio se este promete funcionar melhor. Cada pessoa está identificada completamente com a sua função para um fim particular; cada um constitui um centro abstracto de interesses e de qualidades.
A diferença entre o verdadeiro carácter dos progenitores, é determinada pelo moderno industrialismo, e a parte que eles representam na família, é prontamente tomada pelos filhos e é largamente responsável pelo penoso desenvolvimento da sua vida emocional, pelo endurecimento do seu carácter, pela sua precoce maturidade. A acção mútua entre a família e a geral desculturização torna-se um círculo vicioso. Quando os rapazes crescem, os papéis delineiam-se de modo mais consciente, torna-se clara a necessidade de cultivar os laços familiares; porém, esta atitude não pode travar o enfraquecimento da família; ou a atomização do homem virá a ser dominada por mais fundamentais modificações e transformações, ou poderá revelar-se fatal para a sociedade. As mesmas modificações económicas que destroiem a família arriscam a levar ao autoritarismo. A família em crise determina as atitudes que predispõem os homens à cega submissão.
A família, a partir do momento em que cessou, em grande parte, de exercer uma autoridade específica sobre os seus membros, tornou-se uma campo de treino de autoridade. Os velhos mecanismos da submissão familiar funcionam ainda, mas, mais do que apoiar os interesses da família e dos seus componentes, favorecem um difuso despontar de agressividade autoritária. O totalitarismo, na sua versão germânica, desembaraça-se da família como de um intermediário quase supérfluo entre o estado totalitário e os átomos sociais; na realidade, a família moderna produz as condições ideias para a integração totalitária. Eis o típico desenvolvimento:
Inicialmente a criança traz dos pais as mesmas experiências de amor e de ódio que deles já trazia na época burguesa; bem depressa se dá conta, todavia, de que o pai é absolutamente a personagem potente, o juiz imparcial, o generoso protector que havia imaginado. Noutros tempos, uma amorosa imitação do homem seguro, prudente, dedicado ao seu dever, era a fonte da autonomia moral do individuo; hoje, a criança que cresce e que, em vez da imagem do pai, recebe apenas a ideia abstracta do poder arbitrário, procura um pai mais forte, mais potente, um "superpai", como é oferecido pela retórica fascista. Enquanto que a submissão à autoridade é ainda inculcada pela família, a relação instintiva com os progenitores é gravemente danificada. Noutros tempos, quando o pai não podia exercer uma acção directa sobre a educação do filho, o seu lugar na vida emocional deste era ocupado por um tio, por um tutor, por um professor, ou por qualquer outro individuo que, embora distante e autoritário, oferecia pelo menos um tratamento humano, um carácter, uma atitude pessoal a imitar, uma ideia para meditar e para discutir. Hoje, o pai tende a ser directamente substituído pela entidade colectiva: a escola, o grupo desportivo, o clube, o estado. Quando mais a dependência da família é reduzida no ânimo da criança a uma mera função psicológica, tanto mais se torna abstracta e imprecisa na mente do adolescente; gradualmente, leva a uma geral disposição para aceitar qualquer autoridade, desde que esta seja suficientemente forte.
Este desenvolvimento foi também favorecido pela transformação do papel de mãe. Não que esta trate a criança mais brutalmente do que no passado: pelo contrário! A moderna mãe-modelo projecta a educação do filho quase cientificamente, desde a abem equilibrada dieta até à igualmente bem equilibrada proporção de reprovações e de indulgência, tal como recomenda a literatura popular com base psicológica. Toda a sua atitude para com a criança é razoável: até o amor é administrado como um ingrediente de higiene pedagógica. A nossa sociedade, na classe urbana culta, promove uma atitude "profissional deliciosamente prática também nas mulheres que não são profissionais, mas que continuam a desempenhar a sua tarefa de donas de casa. Elas empreendem a maternidade como uma profissão, e a sua atitude para com os filhos é prática e pragmática. A espontaneidade da mãe tende a dissolver-se e, assim, a sua natural, ilimitada fervorosa ternura protectora. A imagem da mãe no ânimo dos filhos despe-se da auréola mística, e o culto da mãe por parte dos adultos passa, de uma mitologia no mais estrito sentido da palavra, a uma série de rígidas convenções.
As mulheres têm pago caro a sua limitada admissão no mundo económico dos machos: têm tido de assumir todos os tipos de comportamento de uma sociedade completamente materializada. As consequências têm modificado até as mais doces relações entre mãe e filho. A mãe cessa de ser um terna intermediária entre o filho e fria realidade e torna-se simplesmente parte daquela. Antigamente, ele oferecia à criança uma sensação que lhe permitia desenvolver uma certa independência. Sentia retribuído o seu amor pela mãe e, de certo modo, vivia, durante toda a vida. deste capital emocional. A mãe, excluída da comunidade dos machos e, não obstante uma injustificada idealização, obrigada a uma posição dependente, representava um princípio diferente da realidade; podia sinceramente ter sonhos fantásticos com o filho e, quer o quisesse quer não, era a sua naturalidade aliada. Havia, por isso, uma força da vida do filho que lhe permitia desenvolver a sua individualidade contemporaneamente com a sua adaptação ao mundo exterior. Conjuntamente com o facto de que a autoridade decisiva em casa era representada pelo pai e por isso se manifestava, pelo menos num mínimo, por meio de permuta intelectual, o papel da mãe impedia que a adaptação se fizesse demasiado imprevista e totalmente e à custa da individualização. Hoje, que as crianças, não têm a experiência do amor sem reservas da mãe, a sua capacidade de amar fica mal desenvolvida. Ela reprime em si a criança e comporta-se como um esperto pequeno adulto, sem um consciente ego independente, mas com uma forte tendência para o narcisismo. O ter sido duramente tratado e ao mesmo tempo submetido perante o poder, predispõem-no para formas de vida totalitárias.
Os sujeitos que podem ser considerados altamente susceptíveis à propaganda fascista professam uma ideologia que postula uma instituição familiar rígida e absolutamente privada de espírito crítico e revelam a sua absoluta submissão à autoridade familiar na primeira infância. Contemporaneamente, a fundamental falsidade de uma semelhante concepção da família manisfesta-se no facto de os sujeitos de mentalidade fascista não apresentarem, um profundidade, nenhum apego genuíno aos progenitores, aceite por eles de modo perfeitamente convencional e exterior. Este carácter de submissão e de frieza, melhor do que qualquer outro, define o fascista potencial do nosso tempo.
As pessoas de mentalidade fascista quase invariavelmente idealizaram os próprios progenitores. à pergunta sobre quem eram as maiores personalidades da história, um entrevistado típico respondeu: "Os meus pais". Este culto pelos progenitores está baseado em muitos casos na adoração de um pai severo e punidor. São visíveis também, contra este, traços de hostilidade, mas no conjunto a resistência à autoridade paterna é desviada e volta-se exclusivamente contra o débil, o vencido.
Por consequência, a aprovação da família, os irmãos, todos aqueles que pertencem ao próprio grupo são sempre "gente extraordinária", os outros "não estão à altura", são estúpidos, são gente que nada vale. Por meio de uma rígida distinção entre aqueles que são "como nós" e o resto do mundo, as tendências autoritárias do fascista em potência atingem uma abstração inumana, sem alguma ideia específica do fim ao qual se supõe que a autoridade deva servir.
A personalidade autoritária é convencional e estereotipada. A imagem do pai é a de um individuo que mantem a disciplina: rígido, justo, afortunado, solitário, às vezes generoso; a da mãe é composta pelos atributos convencionais da feminilidade: inteligência, prática, beleza, ordem, saúde. Onde uma vez tiveram lugar e operaram a consciência, a independência individual e a capacidade de resistência à pressão do conformismo social, não ficou campo senão para o sucesso, a popularidade, a influência, juntamente com o anseio de alcançar êxito por meio de uma incontrolada identificação com tudo aquilo que exerce na realidade uma força autoritária. Nenhuma autoridade ideal, religiosa, moral ou filosófica é aceite de per si; é reconhecido apenas aquilo que existe. Tudo o que é impopular ou tudo o que é repelido pelos potentes, deve permanecer inactivo.
Enquanto que o carácter autoritário ou masoquista não é, de maneira nenhuma, um fenómeno novo e pode ser observado em toda a história da sociedade burguesa, é a sua particular abstracção e dureza que parece sintomática de um mundo que aderiu à autoridade familiar quando a íntima substância da família já está dissolvida.
Neste caso, a glorificação abstracta da família faz-se acompanhar de uma quase completa falta de vínculos afectivos, positivos ou negativos, com os progenitores. Por consequência, a vida afectiva de carácter autoritário revela traços de superficialidade e de frieza que frequentemente se avizinham dos fenómenos observados em certos indivíduos afectos de psicose. O principal destes traços é a universal recusa da piedade, daquela mesma qualidade que costumava reflectir mais do que qualquer outra, o amor da mãe pelo seu filho.
A índole dura e desapiedada e o forçado alarde de masculinidade que conduzem às ideologias políticas fascistas estão geneticamente ligadas a uma relação agitada com a mãe, ou talvez, mais ainda, à falta de uma verdadeira e própria relação com ela. Todavia, esta não é tão pouco a consequência mais significativa da difícil relação entre mãe e filho: aquela que parece mais gravemente atingida é a tolerância do sujeito para com o sexo oposto. A misoginia fundada na recusa da mãe oferece as bases para a consequente recusa de tudo aquilo que é julgado "diferente". Ouve-se dizer frequentemente que membros estranhos ao grupo, expulsos pelos fascistas, particularmente os judeus, apresentam traços de feminilidade com fraqueza, emotividade, indisciplina e sensualidade. Parece que o desprezo pelas características do sexo oposto localizáveis em indivíduos do próprio sexo esteja regularmente ligado a uma intolerância extremamente generalizada de tudo aquilo que é diferente. Este resultado sugere uma profunda afinidade entre a homossexualidade, o autoritarismo e decadência da família. A estrita dicotomia entre masculinidade e feminilidade e a proibição de qualquer transição psicológica de uma à outra correspondem a uma tendência geral para pensar de dicotomias e estereótipos.
Alguns dos tópicos que a seguir se apresentam não demonstram que o indivíduo que possui um ou mais destes caracteres é necessariamente um fascista em potência, ou que um fascista deva exibi-los todos. A ordem pela qual se sucedem é casual e não indica a importância ou a frequência com que ocorrem. De qualquer modo, se estes traços se verificam muito mais frequentemente num grupo do que noutro, há toda a probabilidade de que a susceptibilidade à propaganda totalitária seja maior no primeiro do que no segundo.
O individuo autoritário adere rigidamente aos valores convencionais, com prejuízo de qualquer decisão moral autónoma. Ele pensa em termos de branco e negro. Branco é tudo aquilo que diz respeito ao seu próprio grupo; negro tudo aquilo que está fora dele. Qualquer coisa diferente é violentamente repelida.
Odeia tudo aquilo que é débil, chamando-lhe um "fardo" (desempregado) ou um "individuo inadaptado" (judeu). Opõe-se violentamente ao exame introspectivo, não se pergunta nunca sobre quais são os seus motivos para agir, mas culpa os outros de qualquer desgraça ou atribui-a a circunstâncias externas, físicas ou naturais.
Pensa por estereótipos: os irlandeses são irascíveis e preguiçosos, os judeus astutos e impostores, etc. Toma o indivíduo por um mero exemplo do género. Acentua as características invariáveis (por exemplo "a raça") contra as determinantes sociais. Pensa em termos hierárquicos "gente da alta", "gente baixa".
É um pseudoconservador; isto é, se se rendeu à manutenção do status que, de livre iniciativa, mas é inexorável contra todos os opositores políticos que, evidentemente, tem uma forte afinidade com o despotismo: "alguma coisa tem de ser feita". Acredita no "médio", no "comum" com o qual se identifica, contra os "soberbos", os "snobs", etc. Considera o sucesso, a popularidade e factores semelhantes como a única medida do valor humano.
Enquanto o seu sistema de valores revela a sua forte avidez de poder, acusa sempre os estranhos ao grupo de aspirarem ao poder, de conspirações e actos semelhantes (este não é senão um exemplo da sua geral atitude "projectiva". Dá importância à religião só de um ponto de vista pragmático, como um meio para ter os outros travados. Essencialmente, é anti-religioso e "naturalista" no sentido em que aceita incontestavelmente a selecção natural como o principio único.
É completamente autoritário, embora aceite a autoridade pela autoridade e dela pretenda a rígida aplicação. A sua reprimida rebelião à autoridade é dirigida exclusivamente contra os débeis. Relativamente ao sexo, acentua exageradamente a ideia de "normalidade". O homem preza sobretudo os valores masculinos; a mulher quer representar o ideal da feminilidade. Tende a repelir o individuo subjectivo, imaginativo, de ânimo piedoso, Não admite piedade para o pobre. A sua vida afectiva é essencialmente fria e superficial.
A sua geral tendência para a exterioridade torna-o susceptível de todos os géneros de superstições, a menos que o seu nível de cultura não seja muito alto. Despreza os homens em geral, crê na sua natureza essencialmente má, e frequentemente exibe uma filosofia cínica em contradição com a sua convencional aceitação dos "valores ideais". Geralmente acentua as atitudes "positivas" e recusa as atitudes críticas como "destrutivas", mas na sua espontânea vida fantástica revela fortes tendências destrutivas. Pensa em termos de catástrofes mundiais e vê "forças diabólicas" a agir por todo o lado.
Geralmente interessa-se mais pelos maios do que pelos fins. Para ele, as coisas são mais importantes do que os homens. Considera os seres humanos sobretudo como instrumentos ou obstáculos, isto é, como coisas. Esconde a sua atitude inumanamente estereotipada por detrás da personificação: quando censura os outros, não pensa numa série objectiva de acontecimentos, mas em homens incompetentes, desonestos e corrompidos. Contrariamente, espera todo o bem dos homens fortes, dos "chefes".
Embora mantendo uma aparência de pureza sexual, de moral ou, pelo menos, de moralidade, está obsecado por ideias sexuais e pressente o "vício" em toda a parte. Quando fala do mal, agrada-lhe insistir nas orgias, perversões sexuais e casos semelhantes. Idealiza os pais. Isto esconde frequentemente a sua hostilidade. Nenhum vivo e profundo vínculo afectivo. Pensa em termos de troca, de equivalência e, com frequência, lamenta-se de não ter recebido tanto quanto deu.
Interessa-lhe mais o que pode "tirar das pessoas" do que qualquer verdadeiro afecto. É manipulativo. Pelo menos superficialmente, é muito apto; revela sintomas psicopáticos mais do que neuróticos. Acredita num certo número de ideias que, embora geralmente aceites por tipos como ele, em casos extremos são muito semelhantes e perigosas ilusões (conspiração internacional).
Atribui uma importância exagerada a ideias de pureza, limpeza, asseio e semelhantes. Lamenta-se dos motivos vulgares e materialistas dos outros, mas ele próprio pensa fortemente em termos de lucro. Professa o optimismo oficial: o pessimismo está decadente. Não obstante o seu geral desprezo pelo contemporâneos, nega os conflitos não só em si, mas também na própria família e no próprio grupo: os seus são todos "gente extraordinária".
Preocupa-se continuamente com o próprio estado social e o da sua família. Outra luz foi lançada sobre a complexa relação entre a família e a sociedade por outros programas de pesquisas para analisar as características autoritárias e as predisposições para ela na infância. Os resultados parecem revelar que o quadro geral das personalidades autoritárias é válido até para os rapazes dos nove aos catorze anos. Sob um importante aspecto, todavia, os resultados premiliares destas pesquisas contradizem as hipóteses derivadas do estudo dos adultos acima referido.
Presumia-se que os rapazes que se submetem mais prontamente à disciplina dos pais e da escola fossem também aqueles que revelam predominantes caracteres autoritários, e que os mais rebeldes e refractários fossem completamente antiautoritários. A suposição estava errada. Os rapazes (e as raparigas) "bons", essencialmente não agressivos, são na realidade aqueles que apresentam o menos número de traços desta lista. Os rapazes difíceis, indisciplinados, são aqueles que voltam as costas ao fraco e exaltam o forte. Parece que o convencionalismo do carácter autoritário e a sua preocupação pela correcção e pelas coisa "que se devem fazer" se adquirem a adolescência ou ainda mais tarde, porque nesse período o efeito da realidade para confirmar os valores convencionais é extrapotente.
Os fascistas em potência parecem ser, pois, aqueles que na infância eram rudes, indelicados e "incivis". A falta de genuína carga afectiva familiar prepara-os para transferir para o seu grupo (quadrilha) um sentido de autoridade precocemente adquirido e para aceitarem o código de valentia e de violência do grupo sem nenhuma resistência moral.
A observação acidental do comportamento das quadrilhas de rapazes corrobora estas suposições. Pode acontecer que a agressividade destes rapazes, que, não obstante conservar-se nos anos posteriores, se torna mais ou menos reprimida e racionalizada, seja devida ao enfraquecimento do aspecto positivo, protector da família. Eles comportam-se como pequenos selvagens porque não tem nenhum refúgio psicológico e sentem que devem continuamente "olhar por si". Num mundo frio e imperscrutável, suspeitam que qualquer pessoa é um inimigo e saltam-lhe ao pescoço, voltando ao cínico princípio da antiga filosofia burguesa, homo homini lupus. Provavelmente não sofrem de uma família demasiado forte e sólida, mas sim de uma falta de família. A este respeito, os relatos conservadores sobre a causa da delinquência juvenil tocam certos factores sociais fundamentais frequentemente obscurecidos pelas teorias psicológicas mais diferenciadas e progressivas. Enquanto a família como ideologia, opera a favor do autoritarismo repressivo, é claro que a família, como realidade, é ainda uma profunda e eficaz força de oposição contra aquela recaída na barbárie pela qual todo o ser humano está ameaçado durante o seu desenvolvimento.
Os nacionais socialistas, que sabiam desfrutar tão astutamente os mecanismos sociais e psicológicos apresentados neste texto, reconheciam ao mesmo tempo o antagonismo inerente entre a família no seu significado genuíno e o bárbaro mundo que apoiavam. Embora exaltassem ideologicamente a família como indispensável a uma sociedade baseada no princípio do "sangue", na realidade suspeitavam e combatiam a família como um refúgio contra a sociedade de massa: consideravam-na uma verdadeira conspiração contra o estado totalitário. A sua atitude para com a família era semelhante à sua política ambivalente perante a religião, a livre empresa e o estado constitucional. Resta ver, hoje, se a complicada acção recíproca destas forças era especialmente alemã, ou se é o indício de uma mais universal tendência histórica.