Monday, January 08, 2007

PROUDHON E A FILOSOFIA

Podemos considerar um esboço de análise crítica daquilo que se chamou o idealismo proudhoniano. Na peugada de Marx, esta designação tornou-se uma sanção comum tanto dos detractores de Proudhon como dos seus “discípulos” (1). Não se trata aliás de negar todo o idealismo nas diligências proudhonianas mas de o definir de maneira a saber qual a sua natureza, e em que medida pode constituir uma restrição ao rigor dos seus desenvolvimentos.No entanto o que parece ser para Marx a falta irrevocável de Proudhon, foi de não ter sabido dominar Hegel, nem de frustrar as armadilhas do seu idealismo (2). Estará ele certo de que se trata efectivamente do caso?Proudhon segue certamente Hegel em relação a certos pontos, e reclama-se algumas vezes na época do Système des contradictions économiques, mas possivelmente está mais a ser vítima dum fenómeno de moda que duma influência profunda? (3) Sem dúvida, vê na dialéctica hegeliana “une méthode merveilleusement commode”, e talvez “la méthode absolue” que, por redução de todas as coisas a uma categoria lógica e se todo o movimento ao método, permitiria a constituição duma “métaphysique apliquée”.A utilisação do vocabulário e da dialéctica de Hegel, ou sobretudo daquilo que ele toma como tal, no Système des contradictions économiques mantem ainda a ilusão dum Proudhon hegeliano (4). Como o pôs em evidência P.Haubtmann, o “flirt hégélien” será de curta duração, e envolvido por períodos francamente hostis ao filósofo (5). Com efeito, como o sublinha G.Gurvitch, “l`orientation générale de la pensée de Proudhon va exactement à lòpposé de celle d`Hegel” quer seja sobre a concepção da sociedade e da história ou da propriedade e do Estado (6). Se o idealismo proudhoniano foi que episodicamente e, sem dúvida, supercifialmente tingido de hegelianismo, de que tipo se aproxima ele?Proudhon face aos racionalistas e aos idealistas, procura uma terceira via, e para fazer isso, como é seu hábito, utilizará e integrará estas duas tendências negando-as individualmente:“L`être ne se conçoit pas plus sans les propriétés de l`esprit que sans les propriétés de la matière: en sorte que si vous niez l`esprit, parce que, ne tombant sous aucune catégorie de temps, d`espace, de mouvement, de solidité, etc., il vous semble dépouillé de tous les attributs qui constituent le réel, je nierai à mon tour la matière, qui, m`offrant `appréciable que sa passivité, d`intelligible que ses formes, ne se manifeste nulle part comme cause (volontaire et libre), et se dérobe entièrement coome substance: et nous arrivons à l`idéalisme pur, cèst-à-dire au néant.Mais le néant répugne à des je ne sais quoi qui vivent et qui raisonnent, réunissant en eux-mêmes, dans un état (je ne saurais dire lequel) de synthèse commencée ou de scission imminente, tous les attributs antagonistes de l`être.Force nous est donc de débuter par un dualisme dont nous savons parfaitement que les deux termes sont faux, mais qui, étant pour nous la condition du vrai, nous oblige invinciblement...” (7).Proudhon procura portanto a fundar o seu ideo- realismo sobre a realidade da matéria e a autonomia do pensar, considerando as ideias como uma subjectivação da natureza pela acção, e a acção como uma objectivação das ideias (8). Fazendo isto, acontece-lhe que se deixa levar pelo vocabulário de Hegel, logo que empreende explicar o seu método:“ En suivant notre exposé cette méthode du développement parallèle de la réalité et de l`idée, nous trouvons un double avantage: d`abord, celui d`achapper au reproche de matérialisme, si souvent adressé aux économistes, pour qui les faits sont vérité par cela qu`ils sont des faits et faits matériels. Pour nous, au contraire, les faits ne sont point matière, car nous ne savons pas ce que veut dire ce mot matière, mais manifestations visibles d`idées invisibles (...). En somme, les faits humains sont l`incarnation des idées humaines (...).D`autre part, on ne peut plus nous accuser de spiritualisme, idéalisme ou mysticisme; car, n`admettant pour point de départ que la manifestation extérieure de l`idée, idée que nous ignorons, qui n`existe pas, tant qu`elle ne se réfléchit point (...) nous nous bornons à chercher les lois de l`être, et à suivre le système de ses apparences aussi loin que la raison peut atteindre”.(9)Este impulso de idealismo puro (10) chegaria para o classificar, não podemos mais legitimamente, entre os idealistas racionalistas, Hegel à cabeça, para os quais só o pensar é inteligível, e portanto se a matéria não é negada, não lhes concedem uma existência autónoma ( as leis da natureza são as leis do pensamento, a filosofia da história é história da filosofia...). Entretanto, é extraído uma passagem que, profundamente, está em contradição com o conjunto da sua obra, e que, mais ainda, parece suficientemente um exercício de estilo para o qual não lhe damos demasiado crédito (11). Por detrás dum vocabulário hegeliano, e salvo certos excessos, o idealismo proudhoniano parece aparentar-se sobretudo a um idealismo relativo, ao realismo crítico de Kant. Com efeito, Kant teve indiscutivelmente uma importância capital na elaboração do pensamento proudhoniano. Contrariamente a Hegel que não estava traduzido, e que ele conheceu dum modo imperfeito, por intermédio de revistas ou de discussões com os germanófonos (nomeadamente Marx, Grün Bakunine ), Proudhon leu Kant (12), afirmará lê-lo todos os dias em Novembro de 1840, e confessará encontrar-lhe uma subtileza que o espantará (13). “Celui qu`aucun philosophe n`égala jamais, l`immortel Kant” (14), está portanto omnipresente no seu pensamento e na sua obra (15), quer seja para o glorificar ou para o negar “ purement et simplement toute la psychologie et la métaphysique de Kant...” (16).O pensamento de Proudhon leva por conseguinte, irrevogavelmente, o cunho de Kant (17), e mais particularmente no seu apego à experiência face aos limites dos métodos dedutivos formais do pensamento. A matéria é portanto real, o mundo existe independente do nosso espírito, assim os conhecimentos a priori que podemos ter do mundo não são que representações (quer dizer uma subjectivização da natureza pelo pensar); podemos, entretanto, conhecer o mundo, e as nossos conhecimentos das coisas não são ilusões gratuitas, pois, graças a elas podemos agir eficazmente no mundo ( é pela experiência, enquanto que acção reflectida sobre o mundo, que podemos objectivar os nossos conhecimentos). Proudhon não trairá esta lógica, e não será lorpa do idealismo hegeliano (18).O pensar, por conseguinte, nada é sem a sua objectivização pelo real, é deste modo que declara:“Il m`est impossible de comprendre comment la conviction que j`ai de la nécessité d`une chose peut devenir la cause efficiente de cette chose. Je suis libre, non parce que l`excellence de la liberté m`est prouvée, bien que cette démonstration ait pu servir à me faire vouloir la liberté; mais parce que je réunis les conditions qui font l`homme libre.” (19).Vemos que o dualismo Espírito-Matéria é capital no método proudhoniano, é através deste par que se defrontram a inteligência (estudo objectivo do que é, das coisas em si, do não-meu (outro-eu)) e a consciência subjectiva dos fenómenos, das coisas par si) (20):“Le sujet sans un objet qui l`excite, ne pense même pas; et (...) l`objet, sans la faculté qu`a l`esprit de le diviser, de le différencier et d`en ramener la diversité à L´unité, ne lui enverrait que des images inintelligibles.” (21).No entanto, esta luta não é equilibrada, e sempre as “protestations subjectives de la conscience” terão prioridade, é o que P.Haubtmann chamava o “primat absolu de la morale” em Proudhon (22). Esta transcendência do pôlo moral, quer dizer de espírito, “un et indivisible”, sobre a natureza, “multiforme et érissable”, implica uma correlação entre o valor e a matéria de tal modo que determinantes e objectos do conhecimento (23) : “ conscience et science seraient donc, au fond, identiques” (24). Valor e Verdade encontram-se por conseguinte cruzados no seio desta ciência moral adogmática, baseada sobre uma “épistémologie” kantiana, fundada sobre a experiência do real e cuja lei fundamental, o imperativo categórico, determina de se guiar por uma regra que seja susceptível de tornar-se uma lei universal do comportamento, independentemente do conteúdo moral do próprio acto (25), mas no qual intervêm as motivações conduzindo à escritura do protocolo, e logo à esperança que se leva, onde o julgamento que se fornecerá, na conclusão da experiência são também, e sobretudo, em ciências humanas, morais.Se Proudhon, na sua vontade de construir uma ciência consciente baseada sobre o estudo fenomenológico do social, responde ao realismo crítico de Kant (26), o lugar, ver a sujectivação da matéria pelo espírito, pela moral, fazem evoluir o seu método ( mais ainda, talvez, que o de Kant em direcção a um idealismo relativo) (27).Por conseguinte faltaria definir o que depende em Proudhon duma ideia preconcebida, de maneira a deixar ao leitor a possibilidade de não ter em conta se não a aceita.Enfim, privilegiar a consciência, volta por conseguinte a procurar a Justiça, a “société réelle”, a sociedade tal como deveria ser, e tal qual seria se se conformasse à razão e á natureza (28). Marx optando pela ciência examinou a sociedade tal qual ela é. É aí que reside o corte epistemológico entre a diligência “materialista” deste último, e a de, talvez mais normativa, pelo menos na sua forma, de Proudhon.Faltar-nos-ia procurar igualmente qual é a realidade do materialismo marxista, de tal modo que se acorda, de confiança com Marx, fiel nisso, ao que ele próprio pensava do seu método (29).Ora, o materialismo de Marx está manchado, duma maneira geral, de idealismo hegeliano e, se aceitamos a existência dum materialismo económico, este está misturado com um anti-materialismo moral e sociológico (30).Isso não é inevitável em ciências humanas e sociais? “Tout être humain a certes des vues personelles idéologiques, morales et politiques. Prétendre qu`on en a aucune et que l`on est purement objectif, c`est se faire ou, tout simplement, un stratagème pour tromper les autres.” (31).Deste modo, o sonho de aplicar às ciências sociais os métodos aos quais as ciências duras devem o seu sucesso (experimentação rigorosa e exacta de fenómenos que se repetem indefinidamente, ou modelo dedutivo procedendo por silogismos), não se realizou pelo estudo dos comportamentos dos seres humanos pelos seres humanos; mas a perseguição deste ideal de “cientificidade”, tão difícil de agarrar que possível, permite às ciências sociais adquirir uma certa legitimidade (32).NOTAS1- Bakunine qualificá-lo-à de “idealista incorrigível” em relação ao materialismo de Marx (“Manuscrits de 1872”, Oeuvres complètes, t.III, p.251.)2- K.Marx - “Misère de la Philosophie”, “Oeuvres complètes de Karl Marx”, Paris, Ed. A.Costes, 1950, p.124:“Ce qui Hegel a fait pour la religion, le droit, etc., M.Proudhon cherche à le faire pour l`économie politique”.3- Ver P.Haubtmann - “Proudhon, Marx et la pensée allemande”, Grenoble, P.U.G., 1981, p.22.4- Dialéctica que abandonará mais tarde:“(...) lorsque, vers 1854, je m`aperçus que la dialiectique d`Hegel, que j`avais dans mon système des contradictions économiques, suivie, pour ainsi dire, de confiance, était fautive en un point et servait plutôt à embrouiller les idées qu`à les éclaircir. J`ai reconnu alors que, si l`antinomie est une lois de la nature et de l`intelligence, un phénomène de l`entendement, comme toutes les notions qu`elle affecte, elle ne se résout pas; elle reste éternellement ce qu`elle est, cause première de tout mouvement, princip+e de toute vie et évolution, par la contradiction de ses termes; seulement elle peut être balancée, soit par l`équilibration des contraires, soit par son opposition à d`autres antinomies.” ( Proudhon - “Théorie de la Propriété”, cap. VIII, citado por A.Cuvillier - “Proudhon”, Paris, Ed.Sociales Internationales, 1937, pp.145-146).5- Proudhon - “Correspondance de P.J.Proudhon”, Paris, Lacroix, 1874-1875, “Carta a Ackermann”, datada de Besançon, 23 de Maio de 1842:“Je ne me laisse point abuser par la métaphysique et les formules de Hegel; j`appelle un chat un chat, et je ne me crois pas beaucoup plus avancé pour dire que cet animal est une différenciation du grand tout, et que Dieu arrive à la siu-conscience dans mon cerveau (...) Eh bien! Cela, pour moi, mon cher, est puérilité; ce n`est pas science” (citado por P.Haubtmann - “Proudhon, Marx et la pensée allemande”, Grenoble, P.U.G., 1981, pp.26-28).6- G.Gurvitch - “Dialectique et sociologie” Paris, Flammarion, 1962, p.129.7- Proudhon - “Système des contradictions économiques”, Paris, Ed.Riviere, 1923, t.I, p.45.8- Ver J.Langlois in “Défense et actualité de Proudhon”, Paris, Payot, 1976, p.88.9- Proudhon - “Système des contradictions économiques”, Paris, Ed.Riviere, 1923, t.I, p.169-170.10- Engels a propósito de Hegel no “L`Anti-Düring”, Paris, Ed.Sociales, 1971, p.53:“Ce qui veut dire qu`au lieu de considérer les idées de son esprit comme les reflets plus ou moins abstraits des choses et des processus réels, il considérait à l`inverse les objets et leur développement comme de simples copies de “l`Idée” existant on se sait où dès avant le monde”.11- Proudhon negará aliás o sentido nas suas notas marginais à “Misère de la Philosophie”:“Ai-je jamais prétendu que les PRINCIPES sont autre chose que la représentation intellectuelle, non la cause génératrice des faits”, ou ainda “apparaître et exister sont deux choses différentes, dont la première n`est vraie que pour nous”, (in K. Marx “Misére de la Philosophie”, “Oeuvres complètes de Karl Marx”, Paris, Ed. A.Costes, 1950, p.135-136.12- O tradutor francês de Kant, Mr. Tissot, “kantiste dévot”, era, ainda por cima , um dos seus amigos.13- Ver P.Haubtmann - “P.J.Proudhon, sa vie et sa pensée”, Paris, Beauchesne, 1982, p.264.14- Proudhon - “De la justice dans la Révolution et dans l`Église”, Paris, Ed.Riviere, t.I, p.226.15- “Kant est cité plus de cent cinquante fois (deux fois plus que Hegel) et le plus souvent en bonne part”: Ver P.Haubtmann - “Proudhon, Marx et la pensée allemande”, Grenoble, P.U.G., 1981, pp.22 e 26.16- Proudhon - “Correspondance de P.J.Proudhon”, Paris, Lacroix, 1874-1875, “Lettre à Ackermann” datada de 23 de Maio de 1842.17- P.Haubtmann - “P.J.Proudhon, sa vie et sa pensée”, Paris, Beauchesne, 1982, p.655:“Ses sources dialectiques, répétons le, c`est d`abord lui-même, ensuite Kant et le “bonhomme Fourier”.Hegel ne vient qu`après, et de façon accidentalle”.18- Proudhon - “Correspondance de P.J.Proudhon”, Paris, Lacroix, 1874-1875, “Lettre à Tissot” datada de 16 de Dezembro de 1846”:“(...) Sans quìl soit besoin de suivre Hegel dans son infructueuse tentative de construire le monde des réalités avec de prétendus a priori de la raison, on peut hardiment soutenir, ce me semble, que sa logique est merveilleusement commode pour rendre raison de certains faits que nous ne savions auparavant considérer que comme les inconvénients, les abus, les extrêmes de certains autres.” (citado por P.Haubtmann - “P.J.Proudhon, sa vie et sa pensée”, paris, Beauchesne, 1982, p.652).19- Proudhon - “Système des contradictions économiques”, Paris, Ed.Riviere, 1923, t.II, p.290.20- Isto aparece claramente no “Système des contradictions économiques”, mesmo se Proudhon parece aqui e ali, seguir a lógica monista de Hegel:“La science, disions-nous, a pour principe l`accord de la raison et de l`expérience; mais elle ne crée ni l`une ni l`autre et voici au contraire qu`une science nous apparaît dans laquelle rien ne nous est donné, a priori, ni par l`expérience ni par la raison; une science où l`humanité tire tout d`elle même, noumènes et phénomènes,universaux et catégories, faits et idées, une science enfin qui, au lieu de consister simplement comme toute autre science en une description raisonnée de la réalité, est la création mêmede la réalité et de la raison!” Proudhon - “Système des contradictions économiques”, Paris, Ed.Riviere, 1923, t.II, p.390.Este “méthode absolue”, negando o dualismo ciência-consciência, não o aplicará, tanto ele está afastado da sua natureza, mas é perturbador de ver a que ponto a crítica que irá fazer mais tarde de Hegel responde ao que parecia acreditar na época:Hegel “rejette ce dualisme: il ramène tout à un principe unique, la logique évoluant en noumènes et phénomènes.Ce qui arrive est donc, en vertu de cette évolution, ce qui doit arriver, Hegel le proclame juste, quel qu`il soit, et sans s`inquiéter des protestations subjectives de la conscience.Pour lui, le droit est un mot: comme la vérité est ce qui est, la justice est aussi ce qui est.” (Proudhon - “La Guerre et la Paix”, Paris, Ed.Riviere, 1927, pp.105-106; citado por P.Haubtmann - “La philosophie sociale de P.J.Proudhon”, Grenoble, P.U.G., 1980, p.84).21- Proudhon - “De la justice dans la Révolution et dans l`èglise”, Paris, Ed.Riviere, 1930, t.I, p.211.22- Ver o meu artigo “Moral científica ou Ciência moral em Proudhon”.23- As definições entre aspas, assim como a lógica geral deste parágrafo, provém de B.Voyenne - “Le fédéralisme de P.J.Proudhon”, Nice, Presses d`Europe, 1973, t.II, p.66.24- Proudhon - “De la justice dans la Révolution et dans l`église”, Paris, Ed.Riviere, 1930, t.I, p.220 (citado por B.Voyenne - “Le fédéralisme de P.J.Proudhon”, Nice, Presses d`Europe, 1973, t:II, p.66).25- Proudhon - “Correspondance de P.J.Proudhon”, Paris, Lacroix, 1874-1875, “Lettre à Bergmann” datada de 24 de Outubro de 1844”:“L`association, la morale, les rapports économiques, tout cela, pour n`être point arbitraire, doit être étudié objectivement dans les choses. Il faut abandonner le point de départ subjectif, adopté jusqu`ici par les philosophes et les législateurs, et chercher hors de la conception vague du juste et du bien, les lois qui peuvent servir à la déterminer, et qui doivent nous être données objectivement dans l`étude des rapports crées par les faits économiques”.26- Kant - “Lìdéalisme consiste à soutenir qu`il n`y a pas d`autres êtres que les êtres pensants (...) Moi, je dis le contraire: des objets nous sont données, objets de nos sens et extérieurs à nous, mais nous ne savons rien de ce qu`ils peuvent être en eux-mêmes, nous n`en connaissons que les phénomènes, c`est-à-dire les réprésentations qu`ils produisent en nous en affectant nos sens. (...) Peut-on bien appeler cela idéalisme? Mais c`en est tout juste le contraire”.27- J.Robinson - “Liberté et nécessité”, Paris, Payot, 1973, p.152:“ Un noir peut très bien savoir par expérience personnelle à quel point le racisme blanc est cruel et répugnant, et un chômeur, à quel point tel système économique est dur et arbitraire.Et si un observateur des faits sociaux utilise ces adjectifs au cours de sa description ou de son analyse (pourvu toutefois qu`ils ne se substituent pas à l`examen attentif des faits), on ne peut pas l`accuser de manqueer d`esprit scientifique”.28- A.Cournot - “Recherches sur les principes mathématiques de la théorie des richesses”, Paris, Vrin:“ (...) la marche progressive des nations dans le système commercial est un fait en face duquel toute discussion d`opportunité devient oiseuse; nous sommes ici-bas pour observer et non pour critiquer les lois irrésistibles de la nature” (p.9).“Mais telle est, comme on l`a déjà dit, l`influence d`une civilisation progressive, qu`elle tend sans cesse à rapprocher les rapports réels et variables du rapport absolu auquel nous nous sommes élevés par voie d`abstraction.” (p.13).29- Ver G.Madjarian - “Le complexe Marx”, Paris, Ed. de l`Harmattan, 1989, p.109.30- Ver G.Madjarian - “Le complexe Marx”, Paris, Ed. de l`Harmattan, 1989, p.109.31- J.Robinson - “Liberté et nécessité”, Paris, Payot, 1973, p.151.32- Proudhon - “Système des contradictions économiques”, Paris, Ed.Riviere, 1923, t.II, p.390:“ (...) l`auteur de la raison économique, c`est l`homme; le créateur de la matière économique, c`est l`homme; l`architecte du système économique, c`est encore l`homme.Après avoir produit la raison et l`expérience sociale, l`humanité procède à la construction de la science sociale de la même manière qu`à la construction des sciences naturelles; elle accorde ensemble raison et expérience qu`elle s`est elle même données, et par le plus inconcevable prodige, quand tout en elle tient de l`utopie, les principes et les actes, elle ne parvient à se connaître qu`en donnant l`exclusion à l`utopie”.