EDITORIAL 6
O final do ano de 97 apontou-nos o caminho que este ano iria seguir, o ano da Exposição. Mas que esposição? Vamos já de seguida ver alguns exemplos. A exposição por excelência é a da televisão. Televisão que trabalha para nos entregar, anestesiados, ao poder que maneja os media. A questão é que anda em volta da palavra “poder” muita confusão não inocente. Tenho como certo que os media não são poder nenhum, mas sim instrumento nas mãos da classe que os possui. Não é por acaso que as pequenas diferenças que eventualmente podem separar entre si os diversos canais de televisão se esfumam, quando se vê que o dito poder mediático não tem poder suficiente, para se distanciar da propaganda política composta e orquestrada por centrais especializadas que são também elas instrumentos do mesmo poder. Esse poder dos media, com tácito e justo relevo para o poder da televisão é manejado, é preciso dizê-lo, pelos patrões do capitalismo, ou se quisermos utilizar uma linguagem mais “in” pelos patrões do neoliberalismo.
Não se pense que essa permanente estratégia de campanha ideológica se limita à área da informação caracterizada como tal: transborda dela largamente, e está presente nos concursos, nas ficções, nos programas musicais e obviamente na publicidade, cada vez mais presente a cada minuto de televisão.
Mas não nos deixemos enganar: a televisão mostra, a televisão expõe, mas não mostra nem expõe tudo. No terceiro piso da prisão de Caxias, o das doenças infecto-contagiosas, chamado significativamente “a despensa da morte” morrem trinta pessoas por mês. Alguma vez esta notícia fez abertura nos noticiários televisivos? Que dizer desta média aritmética de um preso por dia. É caso para dizer: Nem vale a pena levar as pessoas a tribunal.
Politicamente vivemos num país que é um autêntico marasmo. Daí que quando aparece uma notícia que foge à apatia política generalizada é importante dar-lhe o destaque que merece e reflectir sobre esse facto.Um dos grandes patrões deste país, logo capitalista, o Presidente da Associação Industrial Portuense fez num jornal do quotidiano afirmações que primam por um lado pela sinceridade e por outro pelo por o dedo na ferida. O dito presidente disse coisas do estilo: “Entre os dois governos há uma política de continuidade” (para nós nunca foi novidade) por esse facto “não via mal a maioria absoluta do partido socialista” e remata concluindo que “uma maioria do partido socialista ou de outro partido, desde que as suas regras sejam as da economia de mercado”. No que respeita ao actual ministro da Economia e ex-comunista não o incomoda, porque como afirma “já foi ao purgatório” assim como “o actual Presidente da República e os ministros do Cavaco também”. Estas palavras valem por mil entrevistas que se possam fazer aos políticos. Não interessa o partido, não interessam as pessoas, nada interessa, a não ser uma coisa: que a economia de mercado seja mantida custe o que custar, independentemente dos protagonistas e das situações.
Independentemente dos protagonistas e das situações o que é preciso é falar muito e muitas vezes de educação. Daí a semana que o presidente, de quem quer ter Presidente, promoveu por esse país fora feito de folclore, feito de nada. A palavra “educação” tem um efeito cada vez mais anestésico.
Do ponto de vista internacional o que chamou a atenção foi a visita do Papa a Cuba. Mais uma vez a desempenhar bem o seu papel.O Catolicismo é indiscutivelmente a guarda avançada do capitalismo.
A sociedade portuguesa tem estado agitada ( será que tem estado?) com a questão da interrupção voluntária da gravidez. Daí que “A Batalha” dedique um espaço a essa questão, mas não deixa de ser interessante referir aqui, que os mais encarniçados dogmáticos, em relação aos direitos civis daqueles que ainda não existem, são os liberais da economia que historicamente mostraram bem demais o quanto respeitam os direitos daqueles que existem e sofrem.
A morte da mulher do primeiro ministro que acabou por constituir, querendo-se ou não,
um facto político, para além de tudo o resto, foi demonstrar inequivocamente que a natureza é democrática, o que é, para nós libertários, e apesar de tudo, pouco, bem pouco.
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